
Agricultura 2030 levará a redução global da produção agrícola da EU-27 de 56,13 milhões de toneladas
A EU-27 estabeleceu que em 2030 25% da superfície agrícola esteja em agricultura biológica, o que corresponde a 39,2 milhões de hectares, tendo em conta que a superfície agrícola total corresponde a 156,7 milhões de hectares. Mas qual o verdadeiro impacto desta conversão?
Os autores Mário Carvalho (Professor Catedrático na Universidade de Évora) e Nuno Marques (Agricultor e autor da obra "Herdade da Parreira, Sustentabilidade Económica e Ambiental") analisaram o impacto desta meta, proposto pela Comissão Europeia na ‘Estratégia do Prado ao Prato’, estudo que parte do princípio que todas as ocupações culturais são impactadas da mesma forma com a agricultura biológica.
Nesse sentido, os autores estimam que se verifique uma redução global da produção agrícola da EU-27 de 56,13 milhões de toneladas. Consequentemente, de acordo com a análise realizada, no caso português esta medida terá um efeito contraproducente, pois poderá resultar num aumento das importações e da pegada de carbono dos alimentos.
Mário Carvalho e Nuno Marques questionam ainda o facto de apesar de 8% da superfície agrícola da EU-27 estar dedicada à agricultura biológica, o consumo de pesticidas e fertilizantes, que deveria ter descido pela sua evolução tecnológica, mantém-se constante.
A deslocalização da produção para países terceiros, resultando provavelmente na redução da segurança alimentar da EU-27 e no aumento global dos produtos dos preços agrícolas são outras consequências a ter em conta.
Em jeito de conclusão, os autores afirmam que sendo a melhoria das funções do solo a resposta a muitas das preocupações atuais da agricultura europeia e mundial, o sistema agrícola que melhor permite aumentar o teor do solo em matéria orgânica é a agricultura de conservação, pois apesar da agricultura biológica também reclamar o alcance deste objetivo, apenas o consegue de forma falaciosa: “Estudos de longo prazo, feitos na Universidade de Évora, mostraram que a agricultura de conservação pode conseguir aumentar o teor de carbono orgânico do solo a um ritmo de 0,1% ao ano. Este valor é surpreendentemente elevado, se considerarmos que o grande desafio proposto, no âmbito dos acordos para a combate às alterações climáticas de Paris, é um aumento anual de 0.04%. No mesmo estudo provou-se que um aumento do teor de matéria orgânica do solo de 1% para 2% permitiu duplicar a eficiência energética na produção de trigo (trigo produzido por unidade de energia gasta em todos os fatores de produção). A agricultura de conservação permite, assim, aumentar a saúde dos solos, a sua produtividade e a dos consumos intermédios (o que reduz o impacto ambiental da produção) e, simultaneamente, contribuir para a mitigação das alterações climáticas”.