
Cascais vai testar sistema PAYT com 700 famílias (PRIMEIRA MÃO)
Cascais vai testar o sistema PAYT [Pay As You Trow/Pagar pelo produzido], na recolha de resíduos urbanos, abrangendo 700 famílias do município no âmbito do projecto recentemente aprovado “Waste4Think”, desenvolvido por um consórcio que envolve 19 parceiros europeus e que é financiado pelo programa Horizon 2020, soube o Ambiente Online em primeira mão.
Quatro sistemas da bacia do Mediterrâneo com realidades diferentes, incluindo Cascais - o único caso português - funcionarão como “exemplo”, explica ao Ambiente Online Luís Capão, administrador da EMAC - Empresa Municipal de Ambiente de Cascais, E.M., S.A., que gere a marca “Cascais Ambiente” e é detida pela Câmara Municipal de Cascais.
O projecto passa pela aplicação de um sistema tipo PAYT que regista a produção de resíduos individualmente ou por agregado familiar como “estímulo para a redução da produção, aumento da reciclagem e diminuição dos encargos para as famílias”. Um dos principais objectivos do consórcio é investir fortemente nas tecnologias de quantificação de forma a que os utentes possam acompanhar e contribuir directamente para a melhoria do sistema, explica o responsável.
48 ILHAS EM 12 LOCAIS
No âmbito do projecto serão instaladas 48 ilhas ecológicas com o sistema PAYT distribuídas em 12 locais na zona de Lombos Sul, Carcavelos, abrangendo 2500 pessoas, o equivalente a 700 famílias. Paralelamente serão desenvolvidas soluções inovadoras que permitiram a interacção entre o sistema e o cidadão. “A partir de um smartphone ou tablet o utente pode consultar a evolução da produção de resíduos e comparar com a média total do prédio ou até mesmo com os amigos”, exemplifica Luís Capão.
“Quanto mais informação tiver o utilizador, melhor desempenho ambiental terá, sendo que o sistema na sua globalidade funcionará melhor”, realça. A recolha desta informação permitirá ajustar a recolha para garantir maior eficiência e conforto.
Cascais teve a oportunidade de integrar o consórcio desde logo por ter instalado o software informático MOBA, que servirá de base para testar as inovações que serão desenvolvidas no âmbito do projecto. “A implementação das novas aplicações será feita à medida e ajustada para a utilização dos utentes. Aqui está a novidade e singularidade do projecto”, destaca Luís Capão.
Haverá ainda um conjunto de iniciativas de sensibilização com o intuito de educar os utentes para o uso desta tecnologia e potenciar o contributo dos utentes para a melhoria do sistema.
A implementação deste sistema em Cascais está orçada em 500 mil euros e será comparticipada pelo projecto em 350 mil. O valor global do projecto europeu ascende a 10,5 milhões de euros.
O estudo permitirá à Cascais Ambiente conhecer o sistema na plenitude, "nas suas qualidades e pontos fracos", até porque existem outras alternativas ao PAYT que carecem igualmente de testes.
SEM IMPACTO NO TARIFÁRIO
Apesar do sistema PAYT seguir o princípio do poluidor-pagador este projecto piloto não terá impacto na tarifa do consumidor permitindo apenas testar uma nova forma de tarifação. “Vamos percepcionar o impacto [deste sistema] no comportamento individual e colectivo. O objetivo é desenvolver know-how sobre um novo cenário de padrão de tarifário e de utilização de equipamentos públicos para deposição de resíduos que passa pela melhoria dos sistemas e consciencialização ambiental dos cidadãos”, sublinha Luís Capão.
O projecto possibilita à Cascais Ambiente continuar a potenciar o conhecimento no sector e contribuir para “um crescimento global do mesmo em Cascais e em Portugal tal como outras entidades tão bem o têm feito”, salienta.
A candidatura, apresentada em Julho de 2015, foi aprovada em Novembro e está actualmente em revisão orçamental por parte da União Europeia. Com o projecto estima-se uma redução até 10 por cento dos custos operacionais e de emissões de CO2 e ainda o aumento até 20 por cento das taxas de separação.
Entre os 19 parceiros do consórcio estão centros de investigação especializados na modelação territorial e gestão de recursos ambientais, prestadores de serviços e tecnologia de monitorização e serviços de gestão de infra-estruturas de Espanha, Itália, Alemanha, Grécia, Polónia e Dinamarca.
Ana Santiago
Foto: MOBA