
Colunista Ana Luís (Água - Gestão de Ativos): O ativo, o sistema de ativos e a gestão de ativos
Pensemos num qualquer sistema de abastecimento constituído pelas seguintes naturezas de ativos: uma Captação, uma Estação de Tratamento de Água, uma Estação Elevatória, Condutas Adutoras e um Reservatório.
Deverá a gestão de ativos focar-se nos ativos, ou no sistema de ativos (neste caso, o próprio sistema de abastecimento) como um todo? Há quem defenda a primeira opção, há quem defenda a segunda. Eu creio que não só ambas as respostas estão corretas, como são igualmente necessárias.
É um facto que se os ativos não estiverem a cumprir a sua função, dificilmente o sistema em que esses ativos se inserem poderá alcançar os níveis de serviço pretendidos. Por isso, importa, sim, olhar para cada um dos ativos de per si: qual a probabilidade do ativo falhar a sua função? Quais as consequências? Esta última pergunta é particularmente relevante, já que um ativo cujas consequências da falha sejam mais graves merecerá um olhar mais atento, i.e., mais frequente e mais informado.
Por outro lado, mesmo que todos os ativos desempenhassem bem a sua função, tal não faria, necessariamente, com que o sistema funcionasse no ponto desejado. Pela sua própria definição, se um sistema é um conjunto de entidades que interagem entre si, o problema poderá residir não nas entidades (ativos), mas na interação entre as mesmas. Por exemplo, um grupo eletrobomba poderá apresentar-se em bom estado de conservação, mas, no entanto, não se encontrar ajustado às condições de exploração.
Assim, numa perspetiva mais estratégica – tática, deveremos pensar em termos de sistema (“top-down”): Qual a eficiência energética? Qual o número de falhas de abastecimento? Qual o nível de perdas?
E, num plano mais tático-operacional, haverá que olhar para os ativos, individualmente (“bottom-up”): Qual o desempenho deste ativo? Quantas falhas? Quais as causas? Qual o seu nível de manutenção adequado?
O ganho surge quando estes dois olhares se cruzam, pois só então é possível otimizar as estratégias de investimento, de manutenção, de operação e de desativação dos ativos.
Ana Luís é Engenheira Civil (1996, IST), Mestre em Engenharia Mecânica (1999, IST) e Doutorada em Gestão do Risco (2014, Universidade de Cranfield). Em 1996 integrou os quadros da Gibb Portugal, onde participou/ coordenou projetos nas áreas de regularização fluvial, planos de segurança de barragens, planos de bacia, sistemas de informação geográfica, conceção de sistemas de abastecimento de água, entre outros. Em 2006 integrou os quadros da EPAL, tendo participado na génese da Gestão de Ativos e desenvolvido modelos de análise de risco e multicritério para apoio à decisão sobre os investimentos. É, atualmente, a responsável pela Direção de Gestão de Ativos da EPAL. As opiniões expressas neste artigo vinculam apenas a autora.