Colunista Ana Luís (Água-Gestão de Ativos): Gestão do risco: uma tendência para além do Verão
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Colunista Ana Luís (Água-Gestão de Ativos): Gestão do risco: uma tendência para além do Verão

Assisti há umas semanas a uma palestra sobre risco de corrupção e infrações conexas – e rapidamente a conversa do orador derivou para a necessidade da gestão dos vários riscos a que as empresas estão sujeitas, e não apenas aqueles que eram o objeto da sua palestra.

Mais recentemente, no fecho de uma auditoria ao Plano de Segurança da Água, também o auditor (de origem inglesa) deixou como mensagem final a importância de se conhecerem – e de se gerirem, de forma integrada – todos os riscos da empresa, e não apenas os relacionados com a garantia da Qualidade da Água.

Há menos tempo ainda, participei num Fórum onde a gestão do risco na Gestão de Ativos foi o tema principal entre utilities de vários setores (água, energia, transportes), e onde tive a oportunidade de evidenciar a forma como esses riscos se interrelacionavam com os riscos estratégicos da empresa.

Na semana passada, encontrei na Alemanha um dos organizadores do LESAM – congresso bianual da IWA dedicado à Gestão de Ativos – , que tinha ocorrido na semana anterior na Noruega. Como não pude participar no referido congresso, aproveitei a oportunidade para perguntar a esse Professor Norueguês quais as novidades em termos de Gestão de Ativos que tinham emergido, e… [surpresa!] “O tema dominante foi a gestão do risco em gestão de ativos, e a sua relação com os riscos corporativos”, respondeu ele.

Finalmente, no encontro onde estive na Alemanha, ligado às alterações climáticas, o tema da gestão do risco foi também omnipresente, já que a metodologia utilizada neste projeto europeu assenta numa abordagem “risk-based”.

Tudo isto ocorreu no espaço de poucas semanas, tendo sido para mim motivo de satisfação, já que dediquei três anos a investigar na área da gestão do risco a nível estratégico / corporativo.

Os desafios que se colocam são imensos: como comparar riscos de naturezas diferentes (financeiros, éticos, legais, operacionais, tecnológicos …)? Deverá haver uma matriz com critérios únicos, ou várias matrizes? Quantas pessoas necessita uma empresa de alocar à gestão do risco corporativo? Como se pode facilitar a passagem de informação entre os vários níveis operacionais e a gestão de topo, e vice-versa? Quais os benefícios – e como quantificá-los – que advêm de uma gestão do risco integrada?

A muitas destas questões procurei dar resposta no âmbito da metodologia que desenvolvi no meu doutoramento. Porém, não obstante existirem algumas metodologias já disseminadas, convém não esquecer que a respetiva aplicação a cada empresa é única e dependente do respetivo contexto.

Como em qualquer caminho, há etapas já alcançadas e outras por alcançar. No caso dos ativos infraestruturais, já se tem vindo a tornar prática comum a avaliação do risco de falha dos mesmos numa perspetiva preventiva, i.e., determinando os níveis de reabilitação e de manutenção para que estes ativos não cheguem a falhar (ou, pelo menos, falhar muitas vezes).

No entanto, os recentes acontecimentos trágicos de Pedrogão Grande alertam-nos para a importância de se delinearem estratégias para lidar com situações potenciais em que a falha dos ativos é desencadeada por fatores não controláveis pela entidade (e.g. catástrofes naturais, vandalismo, terrorismo): são os Planos de Contingência, que apesar de não reduzirem a Probabilidade de os ativos virem a falhar, têm como função diminuir as respetivas Consequências.

Tendo como pano de fundo todo este contexto, realizar-se-á em Lisboa, no Outono, um workshop dedicado ao tema “Risk and Resilience” em empresas do setor da água, no âmbito do projeto com o mesmo nome financiado pela Water Research Foundation (USA).

Há, pois, muitos e diversos motivos para afirmar que, mais do que uma moda, a gestão do risco é uma tendência que veio para ficar.

Ana Luís é Engenheira Civil (1996, IST), Mestre em Engenharia Mecânica (1999, IST) e Doutorada em Gestão do Risco (2014, Universidade de Cranfield). Em 1996 integrou os quadros da Gibb Portugal, onde participou/ coordenou projetos nas áreas de regularização fluvial, planos de segurança de barragens, planos de bacia, sistemas de informação geográfica, conceção de sistemas de abastecimento de água, entre outros. Em 2006 integrou os quadros da EPAL, tendo participado na génese da Gestão de Ativos e desenvolvido modelos de análise de risco e multicritério para apoio à decisão sobre os investimentos. É, atualmente, a responsável pela Direção de Gestão de Ativos da EPAL. As opiniões expressas neste artigo vinculam apenas a autora.

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