Colunista Henrique Gomes (Energia): Alterações climáticas: Ciência, Religião ou Prudência? (1ª parte)

Colunista Henrique Gomes (Energia): Alterações climáticas: Ciência, Religião ou Prudência? (1ª parte)

A barragem de artilharia dogmática e os autos de fé com que o tema das alterações climáticas, em nome da ciência, nos é permanentemente imposto e aproveitado causam-me, naturalmente, repulsa e desconfiança.

Tema muito actual e que a todos convoca, prefiro a abordagem ética da encíclica Laudato si´ sobre a nossa casa comum e defendo o princípio da precaução no desenho das políticas públicas. Secundo a observação do Papa em como “A alteração climática deve-se, em grande medida, à obra do homem, à sua falta de cuidado pela natureza”. 

Delgado Domingos, saudoso Professor com quem iniciei a minha vida profissional, Homem de causas, livre e rigoroso, deixou-nos nos últimos meses de vida 2 artigos muito relevantes sobre este tema, assim como uma notável e actual entrevista sobre a política energética nacional.

É o primeiro daqueles artigos cuja 1ª parte se transcreve (em bold sublinhados meus) na coluna de hoje.

Assim:

Os equívocos sobre as alterações climáticas            

por José Delgado Domingos

“ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS” tem significados muito diferentes consoante o contexto, a cultura individual, ou as motivações políticas e ideológicas ou simplesmente mercantilistas. Para a esmagadora maioria da comunicação social, dos movimentos ambientalistas e dos políticos, alterações climáticas e aquecimento global significam alterações do clima provocadas pelo homem devido às emissões de CO2 com origem na utilização de combustíveis fósseis. Outros gases com efeito de estufa (GEE), como o metano, ou os óxidos de azoto, são convertidos a equivalentes em CO2e abrangidos nesta designação. A utilização de combustíveis fósseis, como de energia em geral, constitui sempre uma agressão ambiental porque provoca alterações num ciclo natural. A combustão, com relevo para o carvão, liberta sempre poluentes graves, tais como partículas e aerossóis, compostos de enxofre e azoto. O CO2 na percentagem em que existe habitualmente na atmosfera, não é um poluente. Pelo contrário, é fundamental para a existência de vida, pois sem CO2 não existiria a fotossíntese que está na base da alimentação de todos os seres vivos.


Reduzir as “alterações climáticas” a “aquecimento global” devido sobretudo às emissões de CO2 com origem em combustíveis fósseis é redutor e manipulatório. Para o reconhecer basta alguma cultura científica e um mínimo de perspectiva histórico-paleontológica. Na sua ausência, o debate transforma-se numa batalha tendo subjacentes (mas não assumidos) preconceitos e dogmas culturais, políticos, ideológicos, religiosos, etc., embora a ciência seja invocada por todos como fundamento. A fixação nas emissões de CO2, e na subida da temperatura média global que tais emissões provocariam, escamoteia a gravidade das alterações climáticas locais provocadas pelo modo como se ocupa o solo, se urbaniza, se desfloresta, se impermeabiliza e se utiliza energia. As catástrofes climáticas locais, bem como a poluição do ar, da água e do solo, não resultam das emissões de CO2 enquanto tais. As emissões são um sintoma, não uma causa determinante.

A relação causal entre emissões de CO2e aumento da temperatura média global não está cientificamente provada de modo objectivo e convincente. Aliás, apesar de as emissões de CO2 terem continuamente aumentado desde o início da industrialização e do uso crescente de combustíveis fósseis, houve um período de arrefecimento entre 1880 e1915 (1), seguido de um período quente entre 1915 e 1945, a que se seguiu um novo período frio entre 1945 e 1977. Nos anos 70, a comunicação social e muitos cientistas lançaram o alarme de se estar à beira de uma nova glaciação. Entre 1977 e 1998 houve um novo período quente, o qual está na origem de uma mobilização da opinião pública sempre cedentes a pretexto de iminentes desastres climáticos globais se as emissões de CO2 não fossem drasticamente reduzidas. A verdade é que, apesar dos compromissos públicos assumidos para reduzir emissões, não houve até hoje qualquer inflexão na sua trajectória de crescimento. De acordo com os modelos climáticos invocados para justificar alarmismo, teríamos em 2012 uma temperatura média global bem acima da de 1997-1998, mas o que se verifica é que desde então não houve qualquer aquecimento, pondo em evidência a fragilidade intrínseca dos modelos climáticos e a realidade virtual que a partir deles foi criada. Tendo em conta os períodos de aquecimento e de arrefecimento que se verificaram entre1880 e 2012, bem como o enorme aumento da percentagem de CO2 na atmosfera, factos que ninguém de boa-fé contesta, não é preciso ser especialista para pôr em causa a relação directa de causa-efeito entre CO2e temperatura média global à superfície, que para muitos activistas continua a ser um dogma.

Considerando os vários ciclos de aquecimento e arrefecimento, entre hoje e o início da era industrial, houve um aumento da temperatura média global à superfície inferiora 1ºC. Numa perspectiva paleontológica, 1ºC não tem nada de preocupante. Aliás, um aumento igual ou superior existiu durante a alta idade média, sem que para tal se possam invocar emissões de CO2.

Este período esteve associado a um crescimento da população e da prosperidade, e designa-se muitas vezes por óptimo climático. Seguiu-se-lhe a pequena idade do gelo durante a qual a severidade do clima provocou catástrofes humanitárias. Terá sido também um dos factores que levou à Revolução Francesa. Esta pequena idade do gelo terminou cerca de 1850.


Nas alterações climáticas os que invocam ciência numa perspectiva determinista confundem “hard sciences” e “soft sciences”.

A Mecânica de Newton, a Teoria da Relatividade, a Mecânica Quântica, a Termodinâmica, etc. fazem parte das “hard sciences” e caracterizam-se pela sua capacidade preditiva, objectivamente verificável. Prever a posição de qualquer dos planetas do sistema solar daqui a 100 anos, tal com há 100 anos atrás, sabendo onde estão hoje, é objectivamente verificável porque tal previsão cabe inteiramente na Mecânica de Newton. As ciências do clima não fazem parte desta categoria embora utilizem, à custa de simplificações e hipóteses subjectivas, o conhecimento das “hard sciences” na elaboração dos seus modelos. Estes modelos são úteis e susceptíveis de descrever razoavelmente aspectos parciais da realidade mas não a sua globalidade e complexidade. Constituem por isso uma realidade virtual. Ter em conta a incerteza e subjectividade dos modelos não facilita a mobilização da opinião pública nem é do agrado de activistas e decisores políticos, porque os obrigaria a claros juízos de valor e a opções que os responsabilizariam. Preferem por isso exaltar a objectividade e o determinismo científico (inexistentes) para legitimar como científicas o que em verdade são opções político-ideológicas. “As decisões políticas são assim transformadas em questões científicas e técnicas (2)”.

Notas:

1) Evidence-Based Climate Science, Easterbrook, D, Elsevier, 2011.

2) Grundmann, Reiner; Stehr, Nico (2012) The Power of Scientific Knowledge, Cambridge University Press.

Henrique Gomes é Licenciado em Engenharia Mecânica pelo IST-UTL e MBA pela FE-UNL. Foi administrador da GDP – Gás de Portugal e da REN – Redes Energéticas Nacionais e também SEE do XIX Governo Constitucional (até 13Mar12). Actualmente, não tem remuneração nem participações sociais em nenhuma empresa ou associação ligada à energia.

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