
Colunista Nuno Medeiros (Água-Tecnologia): Fatores motivadores da inovação no setor
No anterior artigo referiu-se a importância da adequação da estrutura funcional da organização para a implementação do processo de transformação digital e de processos de inovação em organizações do setor. Sobre este tema, num dos grupos de discussão do World Water-Tech Innovation Summit (WWTI), refletiu-se, para o setor dos serviços urbanos de água, sobre os principais fatores motivadores da criação e implementação de inovação e à relevância das organizações serem inovadoras. Claramente e de forma unânime, definiram-se os três principais fatores: (1) uma cultura organizacional adequada à era digital e de inovação; (2) o incentivo à inovação por parte das instituições que regulam e definem as políticas do setor e as políticas de apoio à inovação; (3) a disponibilidade de capital de risco para investimentos em projetos de inovação.
Sobre a implementação de uma cultura organizacional digital e inovadora, existe diversa bibliografia que suporta as várias teses sobre os princípios a aplicar, contudo existe uma que parece adequada à realidade do setor, face às caraterísticas estruturais e financeiras do mesmo. Nesta, refere-se que os cinco princípios que deverão ser incutidos no capital humano de uma organização que procura ser inovadora, são os seguintes: (1) procurar a oportunidade na adversidade; (2) fazer mais com menos; (3) pensar e agir com flexibilidade; (4) manter um racional simples e objetivo; (5) ser emotivo e socialmente inclusivo. O que eventualmente torna esta tese mais adequada é a mesma ter em consideração a escassez de recursos, nomeadamente os financeiros e a maior adversidade resultante dos processos de estabilização do setor. Complementarmente, exige flexibilidade dos racionais a aplicar mas procura que os mesmos sejam simples. Por último mas não menos importante, uma cultura organizacional emotiva e inclusiva encerra, da melhor forma, o conjunto de propriedades intrínsecas que se pretende para uma organização digital e inovadora.
Sobre o segundo fator motivador para um setor mais inovador, o incentivo à inovação por parte das instituições que regulam e definem as políticas do setor, o caminho percorrido tem sido determinante para a mudança, o que implica que o esforço e empenho a desenvolver por parte dos vários atores é ainda maior, pois o nível de ações a estabelecer para o sucesso da incorporação de inovação nas organizações do setor serão cada vez mais complexas.
Quanto à disponibilidade de capital de risco para o investimento em inovação no setor, terceiro fator, a discussão gerada no WWTI obriga a uma reflexão interessante. Num painel de representantes do capital de risco, sobressaíram três racionais, um mais hostil, referindo que para o setor não têm existido inovações interessantes para a aplicação de capital de risco, outro que refere que as inovações são maioritariamente efetuadas pelas organizações do setor com capital humano e financeira que as suportam e as integram, inicialmente, nos seus processos e posteriormente as comercializam e o terceiro vetor, mais integrador, que acredita no desenvolvimento de processos inovadores adequados à aplicação de capital de risco e que estes terão um acréscimo à medida que os outros fatores condutores da inovação contribuam com maior robustez.
Concordando que os fatores descritos serão os principais motivadores para a inovação do setor, também parece inquestionável que este se interrelacionam e que a sua aplicação integrada tem um efeito exponencial na criação e implementação de processos inovadores.
Como nota de alerta, pela relevância que os programas de financiamento externo têm na alavancagem da inovação nas organizações, salienta-se a abertura entre 1 de março e 30 de junho de 2017, de mais uma “call for proposals”no âmbito do Interreg Europe, programa financiado pelo Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional (ERFD) http://www.interregeurope.eu/projects/apply-for-funding/.
Nuno Medeiros tem o MBA em Gestão e Marketing e 21 anos de experiência no setor da Água. Integra a EPAL desde 1995. Ao longo do seu percurso profissional passou pela Manutenção, Gestão de Clientes e área Laboratorial. Foi gestor do projeto de mobility nas atividades de Meter Reading e Field Services, tendo até 2008 implementado projetos de Smart Metering. Atualmente na área de Investigação, Inovação e Desenvolvimento da EPAL, focaliza-se na componente de produtos, serviços e processos.