Colunista Susana Rodrigues (Resíduos-Recolha): Tecnologias da Informação na recolha de resíduos
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Colunista Susana Rodrigues (Resíduos-Recolha): Tecnologias da Informação na recolha de resíduos

No seminário Waste 2 Business que decorreu no passado dia 16 de março, organizado pela Apemeta no âmbito da Green Business Week, as diferentes apresentações que preencheram a tarde focaram-se nas Tecnologias da Informação (TI) e no seu papel na gestão de resíduos e em particular na recolha de resíduos urbanos.

A modernização do sector pelo recurso a estas tecnologias é sem dúvida uma matéria central e que tem sofrido uma rápida evolução, tendo surgido diferentes soluções no mercado, na sua maioria focadas na automatização da recolha de informação necessária à gestão do serviço em baixa. De facto, estas ferramentas associadas à gestão dos sistemas de informação geográfica (SIG) permitem modelar e optimizar circuitos, utilizando as variáveis com maior impacto no sistema.

Até recentemente, a definição de circuitos não obedecia a um planeamento cuidado e exaustivo, por razões de ordem histórica, mas a evolução da qualidade e acessibilidade a dados geográficos e demográficos (e.g. distâncias, número de habitantes) e “democratização” dos SIG, permitiu que o dimensionamento e planeamento do serviço de recolha ficasse mais preciso.

Os modelos de optimização de circuitos usam dados espaciais de forma extensiva, existindo diversas vantagens na utilização de SIG no sector de RU: desde 2000 que os SIG e softwares de optimização são utilizados para reduzir as distâncias percorridas nos circuitos e optimizar a localização e cobertura dos contentores, no entanto, estes softwares necessitam de dados de input detalhados, que nem sempre estão disponíveis ou dependem fortemente de estatísticas e dados empíricos.

Em paralelo, nos últimos anos tem surgido no mercado uma grande variedade de contentores e de viaturas adaptados aos diversos tipos de recolha e às actuais exigências deste serviço, destacando-se a introdução de sensores de nível de enchimento e de sistemas de identificação, pesagem e de controle de acessos nos contentores e sensores diversos na superestrutura e chassis das viaturas para o monitorização do serviço em tempo real, suportados em hardware e software de gestão de informação e comunicação bidireccional com a viatura com diferentes variantes e complexidade.

Mas a facilidade que as TI trouxeram na gestão dos serviços públicos, e em particular na gestão da recolha de RU, é naturalmente acompanhada por uma maior exigência por parte dos seus utentes: a recolha e o transporte constituem as componentes mais visíveis da gestão dos resíduos, sendo assim comum que as reclamações que surgem estejam relacionadas com a percepção da inadequação dos meios disponibilizados, da frequência da recolha ou da limpeza dos equipamentos.

Os sistemas PAYT (pay as you throw), ainda muito pouco desenvolvidos em Portugal, e também muito dependentes das TI, permitiriam que o cidadão tivesse perceção do impacte direto do seu comportamento na maior ou menor produção de resíduos indiferenciados, mas a sua implementação obriga ao conhecimento detalhado de todas as parcelas de custo da gestão de resíduos e exige que sejam cumpridas várias condições técnicas de acessibilidade ao serviço, para que a fixação de uma tarifa de incentivo seja compatível com o equipamento e serviços existentes.

De facto, o montante principal da aplicação da Taxa de Gestão de Resíduos (TGR) provém dos RU, embora o cidadão possua actualmente poucos ou nenhuns mecanismos ao seu alcance para modificar a ação das entidades responsáveis pela gestão dos resíduos que produz.

Outro exemplo onde as TI desempenharão um papel fundamental será na desmaterialização das guias de acompanhamento de resíduos (GAR), actualmente em fase de testes.

Concluindo, as tecnologias TI devem ser consideradas e incentivadas com vista a garantir o sucesso e a sustentabilidade das opções técnicas escolhidas, mas importa avaliar se estas inovações estão a corresponder aos desafios e às reais necessidades dos serviços de recolha, qual o seu papel no âmbito das Smart Cities e que inovações necessita este sector para poder prestar um serviço mais eficiente em termos técnicos, económicos, ambientais e sociais.

Susana Sá e Melo Rodrigues é licenciada em Engenharia do Ambiente pelo Instituto Superior Técnico (IST/UTL), tem uma pós-graduação em Gestão Integrada e Valorização de Resíduos da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT/UNL) e Doutoramento em Ambiente (FCT/UNL). É membro do grupo de investigadores da FCT/UNL, Waste@Nova e do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, centrando a seu trabalho de investigação na Gestão de Resíduos. Iniciou a sua actividade profissional no Instituto da Água, onde foi membro da Comissão de Acompanhamento da Directiva-Quadro da Água. Foi consultora na área de projecto e de fiscalização ambiental de empreitadas na FBO - Consultores, S.A. (DHV international), e esteve 11 anos na HPEM (empresa municipal de Sintra responsável pela recolha de resíduos urbanos e limpeza pública) como Gestora do Departamento de Planeamento e posteriormente nos SMAS de Sintra. Exerceu funções na EcoAmbiente, S.A., como Directora do Departamento Técnico e Comercial, estando actualmente na Luságua – Serviços Ambientais, S.A., como Coordenadora da Área de Resíduos. A autora não segue, por opção, o novo acordo ortográfico.

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