João Feliciano (Água - Gestão de Resíduos): Gestão de Ativos

João Feliciano (Água - Gestão de Resíduos): Gestão de Ativos

Será intransponível a vontade de deixar de contextualizar qualquer tema com os tempos difíceis e desafiantes que vivemos. Sem qualquer sentido negativo, deitámo-nos um dia a ter de mudar o mundo com a pressão mediática que circundava o ativismo impulsionado por Greta Thunberg, com todo o mérito relativamente ao problema que ainda temos em mãos para resolver, e acordámos numa guerra invisível, em que já mais de 400.000 pessoas perderam a vida. Queríamos mudar o mundo, mas o mundo mudou mais rapidamente do que queríamos.

A pandemia, independentemente do seu trajeto futuro, deixou já um importante rasto de efeitos sociais e económicos que, agora, as nações têm de saber enfrentar. Assiste-se a um sério problema económico e social que rapidamente se está a transformar num problema financeiro e, consequentemente, de finanças públicas. É com este enquadramento que a União Europeia e os seus Estados Membros estão a preparar os seus planos de recuperação.

Será no âmbito do nosso plano de recuperação económica que gostaria de deixar algumas reflexões sobre eventuais oportunidades e/ou ameaças que temos pela frente em termos de gestão de ativos de serviços de águas.

Terá, no entanto, de ser mais claro se o plano [de recuperação económica] tem por base a construção de infraestruturas para acelerar a economia (…) ou se estamos certos de que estas linhas estratégicas são as que trarão maior retorno do ponto de vista do valor acrescentado global, da valorização da sociedade, estando-se, desta forma, a construir um parque de infraestruturas (…) que possamos rentabilizar e que conseguiremos manter.

O plano de recuperação visa acelerar a economia, o que se faz com o impulsionamento do consumo, do investimento das empresas, do gasto público e com a diferença entre as exportações e as importações. Ainda assim, nem todas estas variáveis são acionadas simultaneamente, nem concorrem de igual forma para obter determinado crescimento económico; é um equilíbrio aritmético mediante a execução de determinada estratégia política.

Já foram anunciados alguns pilares estruturais sobre os quais, aparentemente, vai ser construído o nosso plano de recuperação, parecendo existir uma ligação entre o dia em que nos deitámos e o dia em que nos levantámos, o que é de salutar, pois a Europa, e Portugal, parecem querer tomar partido do atual contexto para resolver o que já a todos preocupava. Terá, no entanto, de ser mais claro se o plano tem por base a construção de infraestruturas para acelerar a economia, essencialmente por via de gasto público, ou seja, um plano de obras públicas, ou se estamos certos de que estas linhas estratégicas são as que trarão maior retorno do ponto de vista do valor acrescentado global, da valorização da sociedade, estando-se, desta forma, a construir um parque de infraestruturas, entre outras medidas, que possamos rentabilizar e que conseguiremos manter. Em caso afirmativo esta será uma extraordinária oportunidade.

Para se materializar o que parece ser a base do plano é importante não esquecer o que já está infraestruturado e em que medida estaremos a construir mais sem acautelar a manutenção de níveis de reabilitação adequados relativamente ao que já existe, sendo este um desafio muito importante. A título de exemplo, atente-se ao objetivo de cobrir todo o território com fibra ótica, o que parecerá muito bem se conseguirmos, simultaneamente, mudar o panorama de reabilitação paupérrimo que atualmente temos nas infraestruturas de serviços de águas.

Terá de se aguardar pelo plano e ver se nele está garantido que os pilares que, entretanto, já se estruturaram serão construídos sobre uma fundação sólida, o que nos permitirá encará-lo com confiança e otimismo.

João Pedro Faria Feliciano, licenciado em engenharia civil, pós-graduado em hidráulica e recursos hídricos e doutorado em engenharia civil, pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Complementou a sua formação em gestão com o MBA lecionado pela Porto Business School e, mais tarde, com o “High Performance Leadership Program” pela Universidade de Oxford. Iniciou as suas funções profissionais na área do projeto de estruturas hidráulicas e da consultoria de engenharia. Em 2000 migrou para a hidráulica urbana tendo assumido funções de Direção Técnica numa concessionária municipal de serviços de água. Foi, de 2001 a 2005, coordenador de projeto num dos Sistemas Multimunicipais do Grupo Águas de Portugal. Colabora, desde 2005, com a AGS onde teve funções de Direção Geral numa das suas concessionárias, foi coordenador em 2006/07 da atividade da AGS no Brasil e, posteriormente, Diretor de Engenharia. Na AGS coordenou atividades integradas em programas e/ou projetos de investigação, maioritariamente com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil e com o Instituto Superior Técnico. Atualmente, e desde 2014, desempenha funções de CEO da AGS, sendo igualmente membro do Conselho de Administração de várias empresas do Grupo.

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