Pedro Perdigão: Alguns consensos para afirmar a competitividade do setor da Água

Pedro Perdigão: Alguns consensos para afirmar a competitividade do setor da Água

A sustentabilidade económica, em tempos de alterações climáticas e fim de vida útil dos sistemas, devia dar que PENSAAR aos protagonistas - os municípios. 

Assumindo que estamos de acordo em ambicionar um setor competitivo, sustentável e que, para além de assegurar qualidade e eficiência, contribua para uma economia exportadora, devemos chegar a consenso sobre:

  • a sustentabilidade económica deve advir de tarifas ou transferências que cubram os custos presentes e futuros. Aos impostos cabe a dimensão social que deve existir para quem dela efetivamente precisar.

Que aconteça, de vez, a ligação às novas redes públicas que tanto custaram a construir. Este logro, de quem tanto pediu acessibilidade para agora se recusar a utilizar, acarreta: tarifas mais altas para os cumpridores, perdas de rendimento essenciais para o que ainda falta fazer, a manutenção da poluição de solos e linhas de água e a redução da segurança da água da torneira o que, em última análise, é problema de saúde pública.

Os subsídios ao investimento, muitas vezes instrumentalizados para centralizar e condicionar os municípios, a existir, deverão ser previsíveis e agnósticos a todas as suas opções de gestão exceto aquelas que garantam um ambiente de compromisso em resultados, transparência e competitividade, quer entre operadores, quer no acesso à gestão.

A gestão dos sistemas pluviais, agregada à dos sistemas de águas residuais, deve ser assumida e acarretará custos que devem ser suportados pelo princípio do utilizador-pagador, mas também para assegurar incentivos à redução da impermeabilização dos solos

  • Irão se acentuar períodos prolongados de seca e fenómenos de precipitação intensa (ou alterações climáticas)

Antes de novos investimentos para reforço de captações, reservas ou dessalinizações, a redução das perdas reais nacionais para valores adequados permitirá reduzir as necessidades hídricas nacionais em 80 hm3 anuais e aumentar a duração das reservas existentes em mais de 60 dias.

A gestão dos sistemas pluviais, sendo agregada à dos sistemas de águas residuais, deve ser plenamente assumida e assegurar um adequado nível de funcionamento. Essa gestão acarretará custos que devem ser suportados pela efetiva utilização, não apenas por uma questão de princípio (o do utilizador- pagador), mas, também, para assegurar os incentivos adequados à redução da impermeabilização dos solos.

  • a vida útil de grande parte dos ativos está, quer se queira quer não, a acabar.

Não sendo a extensão da vida útil uma inevitabilidade ou uma constante, a urgente profissionalização da operação e manutenção dos ativos do setor, permitirá comprar algum tempo extra na contagem decrescente em curso.

A operação e manutenção adequadas permitirão ainda, de imediato, reduzir as perdas, sendo os ganhos económicos inerentes uma excelente fonte de financiamento para as inevitáveis futuras obras de remodelação.

  • os protagonistas deste setor são mesmo os municípios. Às instituições nacionais deve caber apenas um papel nos investimentos multimunicipais e na criação de condições que incentivem a competitividade e serviços com qualidade, acessíveis e economicamente sustentáveis.

Compete aos municípios determinar as tarifas ou transferências, num quadro de gestão profissional e de prestação de contas, em que o os níveis de qualidade e eficiência demonstrados limitem o acesso a apoios do estado central ou alterem as tarifas em alta que suportam.

Após a licenciatura em Civil, Pedro Perdigão concluiu o mestrado em Estruturas e foi professor na Faculdade de Engenharia da UP. Tem funções técnicas ou de gestão no setor do abastecimento de água, desde 1996, ano em que iniciou a sua carreira profissional na Águas do Douro e Paiva. Em 2007 saiu do setor para Diretor da Habiserve (grupo de promoção imobiliária) onde foi responsável pelos departamentos de Gestão de Negócio, Sistemas de Informação e Pós-Venda, assim como, Diretor Executivo da empresa de importação de materiais desse grupo - Imperbor. De 2008 a 2009 foi Diretor Geral da Tgeotecnia, SA, empresa do grupo DST para obras de geotecnia. Em 2009 regressou ao setor como Diretor Geral da Águas de Gondomar. Ainda no mesmo grupo, de 2011 a 2016, assumiu as funções de Diretor Geral da Águas de Cascais Atualmente é Administrador no grupo Indaqua, com responsabilidade nas operações das suas empresas que, só em Portugal, asseguram o abastecimento de água e saneamento a mais de 600.000 habitantes. Para além de assumir funções nas concessões (Fafe, Matosinhos, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, Trofa e Vila do Conde) é ainda gerente na empresa de Operação e Manutenção do grupo (Aqualevel) e administrador na Águas de São João da Madeira. É professor no Mestrado de Economia e Gestão Ambiental na Faculdade de Economia da UP.

Topo
Este site utiliza cookies da Google para disponibilizar os respetivos serviços e para analisar o tráfego. O seu endereço IP e agente do utilizador são partilhados com a Google, bem como o desempenho e a métrica de segurança, para assegurar a qualidade do serviço, gerar as estatísticas de utilização e detetar e resolver abusos de endereço.