
Resíduos: A hora da Economia Circular?
Pergunta Água&Ambiente – Resíduos: A hora da Economia Circular?
A Economia Circular é seguramente um dos conceitos económicos e sociais com mais sucesso nos últimos anos. Mas, a sua integração no mundo empresarial e social tem-se revelado um processo lento e difícil que tem ficado muito aquém das expectativas.
Como poderá Portugal aproveitar a consciência global, exacerbada pela pandemia provocada pelo Covid 19, de que os recursos são escassos e que a economia circular é uma oportunidade que não pode continuar a ser ignorada?
Responde: Inês dos Santos Costa, Secretária de Estado do Ambiente
A crise sanitária em que nos encontramos, provocada pela atual pandemia, para além da disrupção social que causou, expôs fragilidades que estão enraizadas no modo como produzimos e consumimos. Um sistema de produção e consumo baseado em cadeias longas e na acumulação de stock não é um sistema resiliente, capaz de suportar choques, sejam eles económicos, sociais ou ambientais.
No passado, a resposta a crises económicas foi, genericamente, a mesma: estimular o consumo, induzindo assim a retoma na produção. Só que essa resposta assumia uma fonte (quase) ilimitada de recursos materiais para o fazer, e serviços ambientais capazes de suportar de modo (quase) ilimitado as consequências dessa resposta (poluição). Hoje sabemos que a maioria desses limites já está esgotado ou praticamente esgotado, e acresce ainda as dificuldades na garantia de bem-estar social e mobilização da sociedade.
Portugal tem vindo a trabalhar desde 2015 na formulação de estratégias, planos e instrumentos de política que admitem explicitamente a existência destes limites, e que os mesmos têm de ser considerados no desenho de políticas públicas. Na área dos resíduos, se queremos de facto encurtar cadeias de produção e consumo, temos de ser mais inteligentes com os produtos e materiais que já temos disponíveis “dentro de portas” e por isso temos de avançar para, por um lado, reduzir a produção de resíduos e, por outro, retirar materiais o mais a montante possível, e com qualidade, para que não sejam eliminados.
Por exemplo, temos de continuar a trabalhar na economia circular para os plásticos – e, por isso, os objetivos de redução e reutilização mantém-se. Temos de garantir a recolha seletiva de biorresiduos, porque é importante regenerar o solo, reduzir as necessidades de água na agricultura, e reduzir a necessidade de importação de adubos químicos e fertilizantes. Temos de continuar a trabalhar na logística inversa que permita ser mais barato arranjar do que comprar novo – algo que é socialmente mais justo, além ambientalmente mais eficaz.
São estes alguns dos desafios que o Ministério do Ambiente e da Ação Climática tem agora pela frente, e que irão ser pedras basilares para os próximos anos em matéria de prosperidade nacional.
INÊS DOS SANTOS COSTA
Secretária de Estado do Ambiente