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ambiente
Portugal e Espanha juntos na gestão dos rios
Portugal
partilha com Espanha muito mais do que séculos de história. Os dois países
dividem também as bacias hidrográficas dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e
Guadiana, que cobrem cerca de 65 por cento do território luso. Esta ligação
existente entre as duas nações não podia ser mais actual e ir ao encontro do
tema do
Dia Mundial da Água 2009, que se
celebrará no próximo dia 22 de Março, e que enfatiza as questões relacionadas
com as águas aproveitadas por mais do que um país. “Águas partilhadas –
Oportunidades partilhadas” é o mote para a realização desta iniciativa, levada
a cabo pelas Nações Unidas, que tem lugar desde 1993.
A influência espanhola nas riquezas de Portugal é inquestionável. Cerca
de 50 por cento dos recursos hídricos de superfície portugueses têm origem na
parte espanhola destas bacias. Esta partilha de recursos conhece vantagens e
desvantagens: se por um lado Portugal pode usufruir de uma quantidade de água
superior àquela que é gerada em território nacional, por outro lado está
dependente da forma como Espanha gere este recurso indispensável, não só ao
nível da disponibilização dos caudais mas também da qualidade da água.
De salientar
também que os maiores rios de correm em território nacional são o Tejo, o Douro
e o Guadiana, todos eles nascidos em Espanha. O Douro
nasce na serra de Urbion (cordilheira ibérica), e ao longo do seu curso de 927 km até à foz no Atlântico,
junto à cidade do Porto, atravessa o território espanhol numa extensão de 597 km , servindo depois de
fronteira ao longo de 122 km ,
sendo os últimos 208 km
percorridos em Portugal.
Por sua vez, a
bacia do Tejo cobre uma superfície de cerca de 80 629 km2, no seu total, dos
quais 24 800 km2 (29,8 por cento) em Portugal. Já o rio Guadiana abrange uma
superfície total de 66 800 km2, dos quais 55 220 (83 por cento) em Espanha e 11
580 (17 por cento) em Portugal. É a quarta maior bacia hidrográfica da Península
Ibérica, depois das bacias do Douro, Ebro e Tejo.
Entre os rios
partilhados, juntam-se ainda o Minho e Lima. O rio Minho nasce na serra
espanhola de Meira e chega ao Atlântico após um percurso de 300 km , dos quais 230 em
solo espanhol, servindo os restantes 70 km de fronteira entre os dois países. No
caso do Lima, que nasce na Serra de S. Mamede, tem uma extensão total de 108 km , dos quais 67 km em Portugal.
Acordos
regulam gestão dos rios
Perante a
necessidade de preservar a qualidade dos rios ibéricos e gerir os interesses
luso-espanhóis nesta área, foram estabelecidos nas últimas décadas vários
acordos bilaterais. Em 1964, foi assinado o acordo para o aproveitamento
hidroeléctrico do rio Douro e dos seus afluentes. Dois anos depois, foi definido
o acordo para o aproveitamento hidráulico dos rios Minho, Lima, Tejo, Guadiana,
Chança e seus afluentes.
Em Novembro de
1998, foi assinada a Convenção sobre a Cooperação para a Protecção e o
Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas,
designada Convenção de Albufeira, que entrou em vigor em Janeiro de 2000 e
prevê um período de vigência de 7 anos, prorrogável por 3 anos. O prazo para
denunciar o acordo terminava em 2008, mas «essa possibilidade não foi
considerada», refere Orlando Borges, presidente do Instituto da Água (Inag), ao
AmbienteOnline.
Esta convenção
regula a protecção e o aproveitamento sustentável das águas dos rios
partilhados, estabelecendo, nomeadamente, um regime de caudais para cada rio (à
excepção do Lima), que determina um limite mínimo de fluxo de água que Espanha
deve deixar passar para Portugal. No entanto, em caso de seca ou escassez,
Espanha não tem de cumprir esse limite.
Em 2005, o
maior ano de seca dos últimos 60 anos, a polémica surgiu devido ao facto de
Espanha ter, alegadamente, “fechado a torneira” a Portugal, embora as
autoridades nacionais tenham negado qualquer incumprimento do lado espanhol.
Nesse ano, lembra Orlando Borges, foi accionado um regime de excepção, que foi
«integralmente cumprido» por Espanha. «Houve necessidade de acordar caudais
específicos», que levaram a uma redução de apenas 10 a 15 por cento em relação
ao normal, explica.
Convenção com poucos ganhos para Portugal
Opinião mais
crítica sobre a aplicação da convenção tem Rui Cortes, professor da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). O docente chama a atenção
para o facto de os critérios para a definição de situações de seca serem
estipulados por Espanha. Por esta razão, garante, a Convenção de Albufeira «não
se traduziu em ganhos significativos para o lado português», apesar de
reconhecer alguma melhoria nas relações entre Portugal e Espanha no que toca à
gestão dos recursos hídricos. A aposta, esclarece Rui Cortes, deveria estar
agora no «desenvolvimento dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica comuns e
articulados». Mas, do lado português, a elaboração dos planos regista atrasos
de um ano.
Neste domínio,
o presidente do Inag considera que a convenção «ultrapassa as directivas e o
direito comunitário», pelo que «a sua necessidade mantém-se».