
Paulo Rodrigues (Resíduos - Recolha): Resíduos Orgânicos e o Desperdício Alimentar
Recentemente tive a oportunidade de ler um Relatório da WRAP - Circular Economy & Resource Efficiency Experts, que apresenta uma relação interessante e muito importante para o que poderá ser uma Estratégia Integrada para a Gestão de Resíduos Orgânicos em Portugal.
O estudo Impact of household food waste collections on household food waste arisings apresenta uma metodologia técnica aplicada que permite concluir que, os locais que têm recolha seletiva de resíduos orgânicos, pela perceção real dos resíduos alimentares que produzem, são induzidos, consequentemente, na redução do desperdício alimentar.
Para muitos isto poderá ser uma verdade de La Palice mas certo é que, quando analisamos todas as estratégias implementadas em Portugal, seja a “futura” Estratégia para a Recolha Seletiva de Resíduos Orgânicos ou mesmo a Estratégia Nacional e Plano de Ação de Combate ao Desperdício Alimentar verificamos que, infelizmente, esta relação entre recolhas de Resíduos Orgânicos e Desperdício Alimentar não é, assim, tão clara para todos.
Trata-se, pois, de uma questão estrutural na definição de uma estratégia.
Pois na realidade, uma estratégia integrada e bem-sucedida para o fluxo dos Orgânicos não pode nunca estar dissociada de estratégias claras e inequívocas de Prevenção de Resíduos e Combate ao Desperdício Alimentar assim como, também não deverá estar dissociada, do Tratamento e da Valorização do Resíduo como um Recurso.
Mas quando analisamos os concursos abertos pelo PO SEUR para a gestão de Biorresíduos e consequentemente as operações que foram financiadas rapidamente percebemos que, mesmo quando os avisos contemplavam as operações de Prevenção e Combate ao Desperdício Alimentar, pouco ou nada se investiu/financiou nessa matéria.
Todos sabemos que a Prevenção é difícil de quantificar, mas vale a pena considerar se o caminho que estamos a percorrer não está mais direcionado para tratar resíduos do que prevenir a sua produção.
Uma estratégia para os Resíduos Orgânicos que não considere que um investimento a montante, na Prevenção, permite de forma efetiva reduzir custos de recolha, através de uma redução do resíduo produzido no produtor e evitar os custos e impactos ambientais associados à produção desse bem (alimentar), será sempre, inevitavelmente uma estratégia deficitária.
Ainda que, por mais belo que seja o relatório e que a real noção dos custos associados à recolha deste fluxo sejam importantes, a verdade, essa sim de La Palice, é que a Prevenção é o primeiro Eixo de Intervenção na Hierarquia de Gestão de Resíduos e nem as Estratégias nem os Financiamentos estão alinhadas com…as prioridades.
Paulo Rodrigues é Engenheiro do Ambiente formado pela ESB/UCP com Formação Avançada em Ordenamento da Cidade e Ambiente - UA e Formação Geral em Gestão para a Excelência - PBS. Com um percurso alargado na área de Gestão de Resíduos, desenvolveu e implementou Sistemas de Gestão em diferentes setores de atividade sendo de destacar o setor Residencial, Não-Residencial, sector da Construção e Demolição, Estádios de Futebol, Canal Horeca, Zonas Industriais, PAYT, Prevenção de Resíduos e Gestão de Resíduos em Eventos entre outros. É atualmente Secretário da Comissão Técnica Resíduos – CT209 e tem o registo de Inventor da Patente de Invenção Portuguesa Nº 106819 - “SISTEMA E PROCESSO DE DEPÓSITO E RECOLHA DE RESÍDUOS” COM RECURSO A IDENTIFICAÇÃO DO UTILIZADOR.