
Aumentos de tensão em cascata são causa provável do apagão ibérico, revela 4.º relatório intercalar da ENTSO-E
O apagão elétrico que afetou Portugal e Espanha a 28 de abril teve como causa mais provável uma sequência de aumentos de tensão em cascata, um fenómeno sem precedentes na rede elétrica europeia. A conclusão é do grupo de peritos da ENTSO-E, que divulgou um balanço intercalar da investigação após a reunião de 15 de julho, conforme partilhado pela ERSE esta segunda-feira.
O incidente ocorreu às 11h33 (hora portuguesa), afetando toda a Península Ibérica e, por breves momentos, uma pequena zona do sul de França. Vários produtores e consumidores industriais foram impactados, incluindo uma central nuclear que se desligou. O restante sistema elétrico europeu não sofreu perturbações significativas.
A ENTSO-E criou um painel de peritos em maio para apurar as causas do apagão e emitir recomendações num relatório final. O grupo já reuniu quatro vezes e confirmou que está a analisar oscilações registadas antes do colapso do sistema, nomeadamente no sul de Espanha, e a qualidade dos dados recolhidos junto de operadores e produtores.
Entre as conclusões preliminares, os especialistas destacam duas oscilações principais registadas antes do apagão — uma local e outra de grande escala — que levaram à ativação de medidas de mitigação. Ainda assim, às 12h33, o sistema ibérico perdeu sincronia com a rede europeia e entrou em colapso, apesar da atuação dos planos automáticos de defesa.
A sequência de falhas iniciou-se com a desconexão de várias centrais renováveis em Espanha, totalizando uma perda estimada de 2.200 MW. O aumento da tensão propagou-se a Portugal, levando à falha generalizada da rede elétrica nos dois países.
De acordo com o relatório, o restabelecimento foi célere. Em Portugal, a REN iniciou a recuperação com recurso a centrais com arranque autónomo, como Castelo de Bode e Tapada do Outeiro. O fornecimento foi totalmente restabelecido no país às 00h22 do dia seguinte.
A ENTSO-E realça a resposta eficaz dos operadores nacionais e a cooperação com as entidades de França e Marrocos. Sublinha também a necessidade de reforçar a resiliência da rede europeia face a aumentos de tensão em cascata, através da melhoria dos mecanismos de controlo e defesa do sistema.
A próxima reunião do grupo de peritos está agendada para 18 de agosto.