
Emissões devem ser reduzidas para metade até 2030
O Relatório Síntese do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), divulgado esta segunda-feira na Suíça, faz um resumo de todos os relatórios do 6.º Ciclo de Avaliação do IPCC que foram publicados entre 2018 e 2023, sendo que uma nova ronda de avaliação só é esperada para 2027/2028.
Os relatórios cobertos na 6.ª Avaliação do IPCC refletem um consenso científico inegável sobre a urgência da crise climática, as suas causas primárias, os seus atuais impactos devastadores, especialmente nas regiões mais vulneráveis ao clima e os danos irreversíveis que ocorrerão se o aquecimento ultrapassar os 1,5°C, mesmo que temporariamente, informou a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável em comunicado.
“O Relatório reflete sobre o objetivo de manter o aquecimento global abaixo dos 1,5ºC afirmando que este é difícil, mas exequível, e que seria irresponsável desistir dele. A ciência diz que temos de agir rapidamente e que o objetivo ainda pode ser alcançado. É uma questão de vontade política fazê-lo, e não de barreiras tecnológicas ou financeiras”, pode ler-se no comunicado da ZERO.
Segundo o relatório divulgado esta segunda-feira, a década até 2030 é absolutamente decisiva para que o aquecimento possa ser limitado a 1,5°C ou abaixo de 2,0°C. “O Relatório de Síntese confirma dados anteriores: para se manter dentro do limite de 1,5°C, as emissões globais de gases com efeito de estufa precisam de ser reduzidas em pelo menos 43% até 2030, em comparação com os níveis de 2019, e em pelo menos 60% até 2035. Quanto mais tempo for necessário até que as emissões globais recuem, maiores serão as necessidades de reduções posteriores.
“No entanto, não existe neste momento um caminho credível para os 1,5°C e as atuais políticas têm-nos conduzido a uma aproximação dos 3°C, de acordo com a ONU. Atualmente o aquecimento global ultrapassa 1,1°C, o nível avaliado pelo IPCC para 2011-2020, com cerca de 1,59° C sobre a terra e 0,88° C sobre o oceano. As atuais políticas em cima da mesa, tal como comunicadas nas Contribuições Determinadas a Nível Nacional (NDC), são totalmente inadequadas e tornam provável que 1,5°C seja ultrapassado no século XXI. Os próximos sete anos são, portanto, essenciais para decidir o nosso destino. No caso das emissões de gases com efeito de estufa continuarem a crescer, os 1,5°C poderão ser atingidos em 2030-2035. Isto sublinha a importância de iniciar imediatamente as reduções, necessárias em todos os sectores. E sabemos aquilo que é preciso: menos fósseis, mais solar e vento implementados de forma sustentável”, alerta a ZERO.
Mas há também boas notícias, destaca a associação ambientalista: o IPCC indica “uma série de soluções de adaptação e mitigação que, se tiverem efetivamente em conta potenciais trade-offs e forem implementadas de uma forma liderada a nível local e inclusiva, podem trazer múltiplos benefícios de desenvolvimento sustentável, desde o combate à pobreza energética, à preservação dos ecossistemas, à redução da desigualdade de género e à melhoria da segurança alimentar. E dar prioridade à equidade, justiça social, inclusão e processos de transição justos pode permitir ações ambiciosas de mitigação do clima e desenvolvimento resiliente face ao clima”.
O IPCC é o órgão de política climática das Nações Unidas com um papel fundamental no apoio aos governos e ao processo da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC) na compreensão do estado da ciência. É baseado no trabalho de milhares de cientistas e vai publicando Relatórios de Avaliação abrangentes. Quase todos os países, incluindo todos os membros do G20, estão ativos no IPCC e, por conseguinte, concordam tecnicamente com o resultado do relatório.