Especialistas corroboram posição de Maria da Graça Carvalho sobre o impacto das alterações climáticas nos incêndios florestais

Especialistas corroboram posição de Maria da Graça Carvalho sobre o impacto das alterações climáticas nos incêndios florestais

Os especialistas Domingos Xavier Viegas, Professor Convidado do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra e Diretor do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da ADAI, e Vasco Silva, Coordenador de Florestas e Biodiversidade na ANP|WWF, corroboram ao Água&Ambiente Online a ideia defendida pela ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, de que as alterações climáticas têm um papel significativo no aumento da severidade e frequência dos incêndios florestais em Portugal. No entanto, ambos sublinham que a falta de uma gestão eficaz do território também contribui de forma determinante para a situação.

Recorde-se que a ministra, ao comentar os incêndios de setembro, admitiu uma relação entre os incêndios registados e as alterações climáticas, embora sublinhando igualmente os "fatores humanos" para o agravamento da situação.

Domingos Xavier Viegas concorda e realça que as alterações climáticas estão associadas a "ondas de calor mais frequentes e prolongadas", que reduzem a humidade dos combustíveis florestais, tornando-os mais suscetíveis à ignição e propagação dos incêndios. Segundo Xavier Viegas, o impacto das alterações climáticas não se limita ao verão. "Tem-se verificado uma extensão do período de incêndios, com ocorrências importantes na Primavera e no Outono, e assistimos a incêndios cada vez maiores e mais violentos", afirma o especialista.

Domingos Xavier Viegas acrescenta ao Água&Ambiente Online que, no âmbito do projeto europeu FirEUrisk, que coordena, está a ser estudada a relação entre as condições de ocorrência de grandes incêndios no passado e no futuro, na Europa, e as mudanças climáticas, utilizando os modelos mais avançados disponíveis. "Em todos os cenários prevê-se um agravamento da situação de ocorrência dos incêndios florestais, com maior número de dias com risco elevado ou extremo e, consequentemente, com elevada probabilidade de termos valores de área ardida muito elevados", avisa. Xavier Viegas sublinha ainda que, caso o Acordo de Paris não seja cumprido, um aumento de 3ºC na temperatura global poderá tornar a situação "catastrófica".

Vasco Silva, coordenador de Florestas e Biodiversidade na ANP|WWF, explicou ao Água&Ambiente Online que, efetivamente, os efeitos das alterações climáticas, como o aumento da temperatura e os períodos de seca mais prolongados, têm levado a uma época de incêndios mais longa e severa em Portugal, alertando para o impacto direto das mudanças climáticas nas condições meteorológicas que favorecem os incêndios.

Ambos os especialistas defendem que o uso de modelos preditivos pode ajudar a reduzir o perigo de incêndio ou a mitigar a sua gravidade. Segundo Vasco Silva, existem modelos, que integram fatores climáticos, com fatores topográficos e a biomassa disponível, que “permitem determinar parâmetros que caracterizam o perigo de incêndio para determinado território”, podendo, com base nesses resultados, “ser planeadas ações que visam reduzir o risco", explica.

Intervenções prioritárias para a gestão florestal

Além da previsão e mitigação, uma gestão florestal eficaz é fundamental para reduzir o impacto tanto das alterações climáticas como dos fatores humanos. Vasco Silva destaca a importância de campanhas de sensibilização, como a "Portugal Chama", que visam reduzir as ignições causadas por atividades humanas, uma vez que a maioria dos incêndios em Portugal tem causas humanas. Vasco Silva também defende a criação de uma "paisagem em mosaico", que inclui áreas de floresta, matos e pastagens em bom estado de conservação, para uma maior resiliência aos incêndios.

Para Xavier Viegas é crucial reduzir a quantidade de biomassa disponível nos espaços florestais e rurais, utilizando métodos como o fogo controlado, o pastoreio e a limpeza mecânica em áreas maiores. O especialista também sugere a criação de descontinuidades na vegetação, evitando “grandes extensões de monoculturas” e introduzindo “espécies autóctones”, como “prioridades que podem ajudar a reduzir a propagação dos incêndios".

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