
Lucros da EDP Renováveis e Endesa recuam em 2023
Os lucros da EDP Renováveis (EDPR) e da Endesa recuaram em 2023: Enquanto a EDP Renováveis registou um resultado líquido recorrente de 513 milhões de euros (ME), o que representa uma queda de 20% relativamente ao ano anterior, já os lucros da Endesa caíram para 742 milhões de euros em 2023, menos 71%, noticiou a agência Lusa.
Na informação dos resultados de 2023 comunicada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a EDP Renováveis indica ainda que os resultados financeiros ascenderam a 313 ME no ano passado (-30%), impactados "pela estratégia de rebalanceamento do mix de dívida por moeda, com aumento do euro e redução do dólar, que permitiu a melhoria de resultados de derivados cambiais".
No que concerne à Endesa, estes resultados devem-se, segundo a empresa, à decisão arbitral que a obriga a pagar 530 milhões de euros a um produtor de gás natural liquefeito (GNL) e à queda da margem do negócio de gás.
Voltando à EDP Renováveis, os resultados líquidos atribuíveis aos seus acionistas foram de 309 milhões de euros em 2023, menos 50% que no ano anterior, precisa o relatório.
De acordo com a mesma empresa, as receitas caíram 6% para 2239 milhões de euros, devido ao menor preço médio de venda (-6% face a 2022), que foi parcialmente compensado por um aumento na geração (+4%), impulsionado principalmente pela maior capacidade média em operação (+8%).
Os custos operacionais aumentaram 9% em termos homólogos, informa a EDP Renováveis, sublinhando que estes foram "impulsionados principalmente pelo aumento de 18% nos outros custos operacionais, que inclui os impostos 'clawback' na Europa (106 milhões de euros na Roménia e Polónia), custos com atrasos de projetos solares nos EUA (51 milhões de euros) relacionados com restrições na cadeia de abastecimento entretanto resolvidos e atraso de projetos eólicos na Colômbia (53 milhões de euros)".
Por sua vez, o EBITDA (resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) caiu 15% para 1835 milhões de euros, "penalizado pelos impactos adversos de curto prazo acima mencionados, parcialmente compensados pelos fortes ganhos com rotação de ativos".
A produção de energia renovável da EDPR aumentou 4% face ao período homólogo, para 34,6 TWh, evitando 20,4 milhões de toneladas de emissões de CO2, "apesar do impacto negativo dos recursos eólicos abaixo da média de longo prazo, com índice renovável em 94%, representando um desvio negativo de 6%, impactado pelo efeito climático El Niño no desempenho do portefólio eólico da EDPR nos EUA", adianta.
O preço médio de venda recuou para 61 euros/MWh, refletindo os preços mais baixos do mercado da eletricidade, principalmente na Europa, face aos níveis "historicamente elevados" de 2022.
A comparação face ao ano anterior também foi impulsionada pela revisão regulatória em baixa dos preços da eletricidade de 2023 para os ativos regulados em Espanha, uma revisão com efeitos retroativos", refere a EDPR, acrescentando que, no Brasil, o preço médio de venda foi afetado pela fase de testes de ativos recém-instalados, antes da entrada em vigor dos contratos de aquisição de energia.
Para 2024, 90% da geração esperada de energias renováveis está contratada a longo prazo ou com preços fixados por coberturas, refere a informação enviada à CMVM.
O investimento bruto ascendeu a 4,8 mil milhões de euros em 2023, com 80% do seu investimento operacional na Europa e América do Norte, "refletindo o crescimento da EDPR com +2,5 GW de acréscimos de capacidade em termos homólogo e 4,4 GW de capacidade renovável em construção a dezembro de 2023".
Quanto à dívida líquida, aumentou para 5,8 mil milhões de euros, um crescimento que "reflete o efeito combinado do aumento do investimento no período, o aumento de capital de mil milhões de euros e encaixe de tax equity nos EUA (0,5 mil milhões de euros)".
Apesar dos piores resultados, a EDPR decidiu propor à Assembleia Geral de Acionistas a continuação do programa Scrip Dividend introduzido no ano passado, proporcionando uma opção adicional de remuneração aos acionistas da empresa. Esta proposta será submetida à aprovação da Assembleia Geral de Acionistas em 04 de abril de 2024 sendo que, se aprovado, o programa deverá ser executado no segundo trimestre de 2024.
Quanto à Endesa, e segundo informou esta quarta-feira a empresa ao regulador espanhol, a CNMV - Comisión Nacional del Mercado de Valores, o resultado líquido ordinário, que serve de base para a distribuição do dividendo, caiu 60% para 951 milhões de euros, e o resultado bruto de exploração (Ebitda) foi de 3777 milhões de euros, menos 32%.
O Ebitda dos negócios liberalizados (produção e comercialização) caiu 19% devido à menor margem da geração convencional, depois da obtenção de um resultado extraordinário em 2022 devido aos preços altos, enquanto o do negócio de distribuição regulada melhorou para 1757 milhões de euros, em comparação com 1703 milhões de euros em 2022.
As receitas da Endesa caíram 23% em 2023, para 25 459 milhões de euros.
Apesar da queda no resultado de 2023, o presidente executivo da Endesa, José Bogas, disse que esperam voltar a crescer em 2024 com a normalização das margens nos negócios de gás e geração convencional.
O responsável confirmou os objetivos anunciados no último Capital Markets Day de alcançar um Ebitda entre 4.900 milhões e 5.200 milhões de euros, o que representaria um aumento entre 11% e 18%; e de aumentar o resultado líquido ordinário em 60% a 70%, para entre 1.600 milhões e 1.700 milhões de euros.
A redução do lucro em 2023 foi influenciada pela queda dos preços da energia, com o preço médio do gás (índice TTF) a cair 64% em relação ao ano anterior e o preço médio diário do mercado grossista de eletricidade (pool) a cair 48%, para 87 euros/megawatt-hora (MWh), combinados com uma queda de 2,1% na procura.
Os resultados da Endesa também foram afetados pela redução introduzida pelo 'clawback' (mecanismo para corrigir as distorções na formação do preço médio da eletricidade) aprovado pelo Governo espanhol para limitar o preço de venda da energia produzida por centrais que não utilizam gás, bem como pelo imposto extraordinário temporário de 1,2% sobre os rendimentos das empresas com um volume de negócios superior a mil milhões de euros.
Entretanto, o Ebitda foi afetado pela decisão arbitral que obrigou a Endesa a pagar 530 milhões de euros a um produtor de gás natural liquefeito pela revisão de um contrato de fornecimento, bem como por uma provisão para digitalização de 165 milhões de euros, além do facto de este ano a Endesa não ter tido os ganhos extraordinários que resultaram em 2022 da venda de 51% do seu negócio de mobilidade eléctrica à sua empresa-mãe, a Enel.
A empresa também sofreu maiores depreciações e perdas por imparidade em 2023, e um aumento dos custos financeiros, com um impacto de 256 milhões, também afetados por uma reposição financeira negativa de provisões.
A Endesa investiu 2304 milhões em 2023, menos 2% do que em 2022, quando atingiu o recorde histórico de investimento, dos quais 38% foram para a rede de distribuição, 34% para as energias renováveis, 15% para a geração convencional e 12% para a venda de eletricidade, gás e serviços de valor acrescentado.
A Endesa terminou 2023 com 6,9 milhões de clientes no mercado livre, mais 1% do que em 2022, e as vendas de eletricidade a preço fixo a clientes domésticos e empresariais cresceram 3% para 53 terawatts hora (TWh).
A Endesa também aumentou o número de pontos de carregamento de veículos elétricos em 39% em 2023, para 19 300, e aumentou a capacidade instalada para clientes em novas instalações de autoconsumo em quase cinco vezes, para 184 megawatts (MW).
O custo médio da dívida situou-se em 3,2% em 2023, em comparação com 1,4% no ano anterior, devido a taxas de juro mais elevadas.