_1257761777.jpg)
ambiente
Portugal só explora 16 por cento do potencial marinho
Hoje
os negócios ligados ao mar são incipientes
e representam apenas 2 por cento do Produto Interno Bruto (PIB)
nacional, empregando directamente cerca de 75 mil pessoas. Mas o
potencial do mar, cujo Dia Nacional é celebrado em 16 de Novembro, é
enorme, podendo representar cerca de 10 a 12 por cento do PIB
português em 2025, ou seja, de 15 a 18,6 mil milhões de euros por
ano. Para chegar a este estado, o País tem de «virar» em direcção
ao mar e aproveitar toda uma série de novos negócios.
«O
Hypercluster do Mar – Um domínio de potencial estratégico para o
desenvolvimento da economia portuguesa» é o documento que faltava
para alavancar o mercado dos negócios ligados ao mar. Elaborado por
Ernâni Lopes, a pedido da Associação Comercial de Lisboa, o
estudo, que foi apresentado em Junho, identifica um conjunto de
actividades organizadas em 12 clusters.
Neste
documento, o segmento da energia, minerais e biotecnologia é um dos
mais promissores, com uma atractividade
acima da média, sendo mesmo considerado um dos eixos geradores
primários de riqueza. Estes são a Náutica de Recreio e Turismo
Náutico; os Portos, Logística e Transportes Marítimos; e as
Pescas, Aquicultura e Indústria de Pescado. Ainda assim, é
salvaguardado que tal se deverá verificar num
horizonte de tempo mais alargado e no caso de os trabalhos de
investigação e pesquisa actualmente em curso se concretizarem.
Variedade
de negócios
A
prospecção do mar português, em termos de recursos petrolíferos,
é ainda insuficiente, mas os indícios existentes não descartam a
possibilidade de haver jazidas economicamente exploráveis na zona
económica exclusiva (ZEE) do Continente.
O
aproveitamento das energias renováveis no mar requer ainda
desenvolvimentos de vulto. No entanto, é identificado que a
energia de base eólica dificilmente «terá êxito nas nossas
costas, porque, para além do elevado custo intrínseco, existem as
difíceis condições ambientais – ondulação e gradiente dos
fundos – que tornariam muito problemática a manutenção dos
parques eólicos offshore». Já a energia das ondas dos mares
tem um valor elevadíssimo, face às características
da agitação marítima.
No
curto prazo poderá ser interessante arrancar com a extracção de
areias e cascalhos em escala industrial, dos fundos de águas baixas,
destinados ao carregamento da linha de costa em zonas particularmente
desgastadas, ao enchimento de praias como forma de protecção das
falésias e de alargamento das zonas de lazer e, ainda, para a
construção civil», adianta o documento. Por outro lado, a
avaliação do potencial de fosfatos e de sais de manganês para
extracção ainda terá de ser feita.
A
diversidade de produtos de biotecnologia existentes nos fundos dos
mares nacionais, bem como o conhecimento avançado obtido por
universidades e centros de investigação, recomendam o
estabelecimento de actividades industriais para processamento desses
produtos. «Um exemplo estimulante poderia ser o estabelecimento de
um cluster em torno do Departamento de Oceanografia e Pescas
da Universidade dos Açores e da sua comunidade científica»,
recomenda o documento.
A
produção de plantas marinhas não tem sido objecto de interesse, no
entanto, com o aumento da procura de plantas marinhas
para alimentação, cosmética e farmácia e, atendendo a que se pode
obter boas mais-valias de algumas algas pouco volumosas, esta pode
ser uma actividade com interesse mesmo para pequenas empresas,
acrescenta.
No
capítulo do ambiente
e conservação da natureza, existe matéria para a
criação de novas áreas de negócio e de investigação
relacionadas com a criação das áreas protegidas marinhas (APM),
para além das possibilidades de negócio associadas à
monitorização, conservação e visita das futuras áreas protegidas
marinhas. Nesta área, o mercado é reduzido, mas com algum potencial
de crescimento designadamente na área da conservação da natureza.
O
valor da plataforma continental
Mas o valor económico
dos recursos marinhos portugueses pode ir muito além de todas estas
projecções se tivermos em conta a extensão da plataforma
continental. Com a ratificação, por parte de Portugal, da Convenção
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar em Novembro de 1997, o
País ficou com a possibilidade de alargar a sua plataforma
continental para além das 200 milhas.
Neste âmbito, foi já
apresentado, em 11 de Maio, pela Estrutura de Missão para a Extensão
da Plataforma Continental (EMEPC), uma proposta à Comissão de
Limites da Plataforma Continental. A proposta avança para uma
extensão da plataforma continental de mais de dois milhões de
quilómetros quadrados, além das 200 milhas da ZEE. Na plataforma
continental alargada os países apenas terão jurisdição sobre os
recursos do solo e subsolo, como petróleo, gás, metais ou recursos
biológicos e genéticos, ficando de fora a exploração de recursos
na coluna de água.
A deliberação sobre a
proposta portuguesa deverá ser conhecida no final de 2011, acredita
Manuel Pinto de Abreu, da EMEPC, apesar de o tempo de apreciação
ser proporcional à complexidade da proposta apresentada. A EMEPC
promete continuar os trabalhos exploratórios, tendo em conta o ROV –
veículo de operação remota capaz de atingir profundidades
ocêanicas até os 6000 metros -, cuja actividade está já a ser
internacionalizada para trabalhos deste tipo.
«Somos dos poucos países
com tecnologia para estas profundidades», assegura Pinto de Abreu,
por isso, a criação de um cluster científico aplicado ao mar
profundo pode ser viabilizado.