
Centrais de biomassa da União Europeia queimam troncos de árvores em vez de resíduos florestais, acusa relatório
Muitas centrais de biomassa da União Europeia (UE), portuguesas também, estão a usar árvores abatidas nas florestas, em vez de resíduos florestais, apesar de afirmarem só utilizar serradura e outros resíduos da indústria madeireira. A denúncia é feita no relatório "Como a UE Queima Árvores em Nome das Energias Renováveis", publicado pela Aliança dos Defensores das Florestas ("Forest Defenders Aliance"), uma coligação internacional de Organizações Não Governamentais (ONG) ligadas ao ambiente, da qual a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável faz parte.
O documento acusa, assim, a indústria da biomassa de queimar troncos de árvores, mas alegar sustentabilidade.
Este relatório “vem demonstrar o que há muito se sabia”, acusa a ZERO em comunicado, que "muitas centrais a biomassa para produção de eletricidade e fábricas de ´pellets´ na UE estão a utilizar árvores abatidas diretamente das florestas". A associação ambientalista recorda ainda que cientistas e consultores da Comissão Europeia advertiram que queimar árvores para produzir energia prejudica os objetivos climáticos da UE e a restauração dos ecossistemas.
No relatório são exibidas 40 fotografias de centrais de biomassa e 'pellets' (aglomerado de resíduos de madeira normalmente para aquecimento doméstico) nas quais se veem grandes quantidades de troncos de madeira. Estas imagens vêm contrariar o que é relatado nas suas páginas na internet, pelo que, conclui-se no documento, um quarto das empresas faz afirmações enganosas, omitindo que usam troncos de árvores. De acordo com a nota da ZERO, as fotografias do relatório foram obtidas a partir de várias fontes de informação pública e de fotografias dos locais, incluindo fotografias aéreas do Google Maps/Earth, Google Street View, bem como imagens e vídeos de websites das próprias empresas.
"O relatório surge na altura em que os líderes da UE, incluindo o vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans, manifestam o seu alarme sobre a quantidade de árvores que estão a ser queimadas para produzir energia, e se comprometem a reformar a política de biomassa", diz a ZERO no comunicado.
O relatório de 2021 do European Commission’s Joint Research Centre, citado pela ZERO, identifica a queima de madeira com uma perda para a natureza e para o clima, emitindo mais de 311 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano (o equivalente a todas as emissões de gases com efeito de estufa comunicadas por Espanha), sendo a biomassa subsidiada em cerca de 17 mil milhões de euros por ano.
"A Europa tem de compreender que atualmente não consegue satisfazer a procura de biomassa para energia a partir de resíduos. Este relatório mostra como a queima de troncos é uma realidade, e como é importante que a UE deixe de contabilizar a queima insustentável de biomassa florestal para os objetivos de energia renovável", diz o presidente da Zero, Francisco Ferreira.
As centrais de biomassa produzem energia elétrica a partir da combustão de biomassa, gerada de matéria orgânica de origem animal ou vegetal.
A queima de biomassa em Portugal
Em Portugal a ZERO lembra também um relatório que divulgou no ano passado no qual já se concluía que troncos de madeira de qualidade estão a ser queimados para produzir eletricidade ou fazer 'pellets'.
E diz que o novo ministro do Ambiente e da Ação Climática deve avaliar e reformular os apoios públicos às centrais de biomassa florestal, que deve haver mais informação pública sobre o setor, e que o Governo só deve permitir nas centrais o uso de biomassa florestal residual.