Fórum Energia: Consequências do apagão
Jaime Braga
Assessor da Direção da CIP
Manuel Costeira da Rocha
Paulo Preto dos Santos
Head of Energy Commission of Ordem dos Engenheiros
Mário Paulo
Presidente do Conselho Consultivo da ERSE
Francisco Ferreira
Francisco Ferreira, presidente da ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável
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1. Mesmo antes de se conhecerem as causas que estiveram na base do apagão, que medidas imediatas podem ser tomadas para minimizar a repetição de uma interrupção do abastecimento?

Jaime Braga
Assessor da Direção da CIP
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Um apagão total ou mesmo parcial pode voltar a acontecer.

Assim, a única atitude sensata será ter o País preparado para retomar o serviço no menor tempo possível.

Refira-se que a tentação de separação de redes entre Portugal e Espanha, e entre a Península Ibérica e o resto da Europa, não é aceitável; a robustez coletiva também se faz de entreajuda.

Mas, tal como oportunamente tenho defendido, uma utilização em grande escala das interligações não pode dispensar o funcionamento de meios de produção de eletricidade capazes de reposição rápida das condições de abastecimento.

Deverá, portanto, ser substancialmente aumentado o número de centrais com capacidade autónoma e imediata de rearranque, sendo que, uma parte delas, deverá ter características de “despachabilidade”.

Manuel Costeira da Rocha
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Tal como temos assistido, as medidas imediatas correspondem a uma gestão mais prudente do sistema, seguindo as regras de mercado estabelecidas, mas assumindo critérios mais exigentes em termos de restrições tecnicas (do mix despachado em cada momento e da carga na interligação com Espanha). Há uma necessidade imperiosa de controlo de tensão (via reativa) dadas as alterações ocorridas na rede ibérica e europeia, com o alargamento a leste e a instalação de novos centros produtores renováveis em zonas de fraco consumo.

Paulo Preto dos Santos
Head of Energy Commission of Ordem dos Engenheiros
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Algumas das medidas foram implementadas de imediato, quer pelo operador do sistema elétrico português (a REN), quer pelo operador do sistema elétrico espanhol (a REE). A REN fechou, desde logo, a importação de eletricidade com origem em Espanha e, gradualmente, foi aliviando essa limitação. Mas até ao dia de hoje (cinco semanas após o apagão), permanece uma limitação ao peso da potência de importação face ao consumo nacional. Ao mesmo tempo, a REN passou a impor um mínimo de geração com origem em centrais a gás natural. Por seu lado, em Espanha, a REE limitou igualmente o peso de potência de geração fotovoltaica e/ou eólica, aumentando a contribuição da geração com gás natural. Estas medidas das duas operadoras revelam, indubitavelmente, como ambas assumiram que os sistemas elétricos não estavam a operar com a segurança que agora reconhecem ser necessária.

Mário Paulo
Presidente do Conselho Consultivo da ERSE
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A REE tem uma versão que tornou pública sobre a causa do apagão: as centrais de ciclo combinado não responderam em conformidade com as normas, isto é, não absorveram a energia reativa que provocou as sobre tensões nas redes. Baseada nesta convicção, aumentou o número de centrais de ciclo combinado no mercado de Serviços de Sistema, o que aumentou os custos deste mercado em cerca de 80% no mês de maio.

Releva-se que esta versão não foi aceite pelas empresas — a Endesa e a Iberdrola apresentaram publicamente dados que não a confirmam.

Espera-se a versão final do comité internacional de peritos criado para este efeito.

Francisco Ferreira
Francisco Ferreira, presidente da ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável
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Deve efetuar-se um reforço da redundância e resiliência da rede elétrica e investir-se em sistemas de armazenamento, digitalização da rede e monitorização em tempo real, além de planos de contingência eficazes e bem testados para garantir uma resposta rápida e coordenada a falhas inesperadas.

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