Monocultura de abacates em área da Rede Natura 2000 pode ser mais uma “machadada” na conservação da natureza, considera ZERO
Para a ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável, a implementação de um projeto de monocultura de abacates, nas Herdades da Murta e do Monte Novo, "em plena Zona Especial de Conservação (ZEC) da Comporta/Galé", cuja consulta pública ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) terminou esta quarta-feira, é mais uma "machadada" na conservação da natureza em área da Rede Natura 2000.
Segundo um comunicado enviado pela associação ambientalista, o projeto, promovido pelo grupo Aquaterra, propõe a instalação de um empreendimento agroindustrial, com mais de 800 hectares (ha), para a produção e exportação de abacate, em plena Zona Especial de Conservação (ZEC) da Comporta/Galé, em área de habitats dunares. A monocultura de regadio dependerá de 34 furos de captação de água subterrânea e do abastecimento do perímetro de rega do Vale do Sado.
Primeiro, a ZERO considera alega que este é um projeto sobredimensionado que pode pôr em causa os recursos hídricos. "Para a produção de abacate, o promotor dimensionou o sistema de rega contando com um uso anual de mais de 4 milhões de metros cúbicos (4 hm³) de água, cerca de 3 hm³ provenientes de águas subterrâneas e 1 hm³ do Aproveitamento Hidroagrícola do Vale do Sado (AHVS)", elucida. Assim, para justificar o direito ao uso destas quantidades de água subterrânea, o grupo AQUATERRA "contraria os valores considerados pela entidade competente quanto aos recursos hídricos disponíveis nos aquíferos (3.º ciclo do Planos de Gestão da Região Hidrográfica), propondo critérios próprios para pintar um cenário mais favorável a fim de justificar uma maior extração de água.
Depois, é ainda de destacar que o projeto se desenvolve nos limites da Reserva do Estuário do Sado, em ecossistemas com habitats dunares com zimbrais e outras espécies protegidas ao abrigo da Diretivas Habitats e Aves, tendo sido identificadas espécies RELAPE, endemismos ibéricos e lusitânicos na área de influência do projeto. Assim, "a afetação e fragmentação destes habitats podem pôr em causa as medidas de conservação previstas. O Plano de Gestão proposto para a ZEC estabelece medidas para restringir a conversão de floresta e dos agrossistemas existentes", escreve a ZERO.
Outra das razões enunciadas pela ZERO, é o facto de as metas de proteção da natureza poderem ficar em risco devido à artificialização de áreas classificadas.
"O projeto em avaliação é paradigmático: não deveria suscitar dúvidas que a instalação numa Zona Especial de Conservação de mais de 800 hectares de produção agroindustrial, caracterizada pela intensificação do uso do solo, por altas exigências hídricas e uso de agroquímicos, é uma impossibilidade se os decisores públicos levassem a sério o papel de preservação da biodiversidade atribuído a esta área incluída em Rede Natura 2000."