
Veolia reforça aposta na economia circular
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A Veolia consolidou a sua presença no setor dos resíduos em Portugal com a aquisição da Micronipol, unidade especializada no tratamento de plásticos pós-consumo e pós-industriais, transformando resíduos em granulado reciclado de alta qualidade. Durante o Open Day promovido pelo Electrão, dedicado à reciclagem de plásticos, no qual o Água&Ambiente Online marcou presença, foram apresentados os detalhes desta integração e o impacto que terá na economia circular e na descarbonização do setor.
Como referiu Sandra Silva, COO da Veolia Portugal para Resíduos, ao Água&Ambiente Online, através desta aquisição estratégica, concluída em junho de 2024, a Veolia deu um passo em frente na promoção da economia circular: "A Micronipol permite-nos dar um passo decisivo na reciclagem de plásticos, ao reforçar a nossa capacidade de transformar resíduos em matéria-prima reutilizável, reduzindo a dependência de plástico virgem”.
A unidade da Micronipol produz atualmente cerca de 15 mil toneladas de granulado reciclado por ano.
A operação insere-se na estratégia global da Veolia de apostar na regeneração de recursos e na descarbonização. Em Portugal, a empresa trata anualmente cerca de 156 mil toneladas de resíduos industriais e comerciais, o que sublinha a importância deste investimento.
Como funciona a reciclagem na Micronipol?
O processo de reciclagem na Micronipol inicia-se com a receção de resíduos plásticos provenientes de diversas fontes, incluindo a recolha seletiva (ecopontos amarelos), tratamento mecânico e biológico de resíduos urbanos e desperdícios industriais. O material passa por triagem manual e mecânica, onde são removidas impurezas como metais, papel e outros contaminantes. A lavagem é uma etapa essencial para garantir a pureza do material que será reciclado, sendo utilizado um sistema de separação por densidade para eliminar os contaminantes mais leves.
Seguem-se as fases de trituração e secagem, nas quais o plástico é reduzido a pequenos fragmentos e desidratado para evitar impurezas no produto final. Segundo foi explicado durante a apresentação da Veolia, na Micronipol trabalha-se com plásticos de diferentes origens e graus de contaminação, otimizando cada lote para que cumpra os requisitos técnicos dos clientes.
Após a secagem, o plástico é fundido e filtrado em extrusoras, dando origem a um granulado uniforme, pronto para ser reutilizado em novas aplicações industriais. Cada lote de granulado passa por um rigoroso controlo de qualidade, garantindo que as propriedades físicas e químicas do material cumprem as especificações exigidas pelos clientes.
O destino dos plásticos reciclados
Os plásticos reciclados na Micronipol destinam-se a uma ampla variedade de indústrias, que incorporam este material nos seus processos de produção. Atualmente, cerca de 40% da produção é exportada para mercados internacionais, enquanto os restantes 60% são utilizados no mercado nacional. O granulado reciclado pode ser aplicado no fabrico de embalagens para detergentes e produtos de higiene, tubos para sistemas de rega e drenagem, sacos de lixo e de supermercado, componentes para a construção civil e peças para o setor automóvel.
Sandra Silva sublinhou a importância da reutilização destes materiais: "Estamos a fornecer plástico reciclado para setores que tradicionalmente consumiam grandes quantidades de plástico virgem”, ajudando assim na redução da pegada carbónica da produção industrial. A procura por soluções recicladas, por parte da indústria, tem vindo a aumentar, impulsionada por regulamentações ambientais mais exigentes e pelo compromisso das empresas em reduzir a sua dependência de matérias-primas fósseis".
A crescente aceitação por parte dos consumidores de produtos com incorporação de reciclado, mesmo com alterações estéticas, como uma coloração ligeiramente diferente, está a impulsionar a procura.
Apesar dos avanços, existe um desafio técnico que limita a aplicação do plástico reciclado: a impossibilidade de ser utilizado em contacto direto com alimentos e produtos farmacêuticos, com exceção do PET reciclado.
O papel do Electrão e as parcerias na reciclagem de plásticos
A Veolia mantém parcerias com todas as entidades gestoras de resíduos em Portugal, tendo em vista garantir um fluxo eficiente de materiais recicláveis.
Durante o Open Day, Susana Ferreira, diretora de Gestão de Resíduos do Electrão, destacou a relevância desta colaboração: "Este trabalho é essencial para aumentar as taxas de reciclagem e garantir que os materiais recuperados são reintroduzidos no ciclo produtivo de forma eficiente, ou seja, assegurar que os plásticos recolhidos têm um destino adequado e entram em ciclos de reutilização eficientes. Assim, trabalhamos com empresas como a Veolia para maximizar a valorização dos resíduos e fomentar a economia circular."
Como esclarecido, as parcerias entre a Veolia e as entidades gestoras permitem uma maior rastreabilidade dos resíduos plásticos, confirmando que o material é triado e reciclado de acordo com elevados padrões ambientais. Além disso, estas colaborações têm impulsionado iniciativas de sensibilização para promover a correta separação dos resíduos desde a origem.
Impacto na economia circular e na descarbonização
Segundo dados da Veolia, em Portugal, a empresa já evitou a emissão de 124 mil toneladas de CO2eq através das suas operações.
"A substituição de plástico virgem por plástico reciclado tem um impacto direto na redução da pegada carbónica, permitindo uma diminuição das emissões de CO2", afirmou Sandra Silva.
A aquisição da Micronipol coloca Portugal no mapa da reciclagem de plásticos dentro do grupo Veolia, permitindo que a unidade opere em sintonia com outras fábricas internacionais. "Qualquer cliente, em qualquer parte do mundo, pode aceder a uma tipologia de plástico reciclado através da rede global da Veolia”, destacou Sandra Silva.
A estratégia da empresa alinha-se com as metas europeias e nacionais, sendo a transição para uma economia circular um dos grandes desígnios de Portugal, refletido no Plano de Ação para os Resíduos TERRA, apresentado pelo Governo no passado dia 7 de março, e no Plano de Ação para a Economia Circular 2024-2030.