
A Energia é um bem escasso e caro
A energia que utilizamos diariamente nas nossas vidas exige tecnologias que permitam a sua conversão em trabalho, calor e frio. Quando falamos em fontes ilimitadas, como é o caso da energia solar, omitimos sempre que as tecnologias utilizam metais raros que são escassos, na maioria localizados em locais com limitações geopolíticas equivalentes aos combustíveis fósseis. Este raciocínio é extensível às baterias para os carros elétricos, aos geradores eólicos e outras aplicações.
Na data em que escrevo este artigo, a notícia mais bombástica refere-se à antiga promessa da fusão nuclear, em que com a utilização de lasers teriam conseguido potências mais elevadas que poderiam, finalmente, fornecer energia ilimitada, limpa e, subentende-se, muito barata, sem o inconveniente dos resíduos da fissão nuclear.
Não é propósito deste artigo discutir estas tecnologias, nem colocar em causa a necessidade de inovações científicas e tecnológicas, mas alertar para os efeitos nocivos destas promessas nos consumidores.
Esta visão é um grande obstáculo à necessária mobilização da sociedade para a transição energética. Se dentro de uma década vamos ter energia ilimitada e limpa, deveremos investir na produção destas tecnologias, em vez de investir na poupança de energia e/ou em eficiência energética.
A realidade que vivemos é o oposto, a energia de fontes renováveis não colmatou o défice dos combustíveis fósseis e das nucleares que foram encerradas. O gás natural tornou-se inevitável como energia de transição, o seu fim foi dilatado no tempo. São conhecidas as grandes reservas mundiais e a competição dos países pela sua aquisição.
De facto, as emissões têm aumentado. As Conferências Mundiais da ONU para as Alterações Climáticas não têm cumprido as expetativas criadas. A COP27 no Egito não fugiu à regra, apenas mitigado pela criação de um fundo para ajudar os países em desenvolvimento. O desperdício e a ineficiência na utilização da energia têm dado grande contributo ao aumento de emissões, apenas dois exemplos: no setor dos transportes, responsável por 16% das emissões mundiais, a utilização de veículos mais pesados com maiores superfícies frontais tem neutralizado o aumento da eficiência dos motores. No setor agrícola, responsável por 19% das emissões mundiais de gases de efeito de estufa, o desperdício alimentar em alguns países chega aos 50%.
A energia é e continuará a ser um bem escasso e caro, sendo necessárias políticas públicas firmes que incentivem a poupança e combatam o desperdício.