A importância dos óleos alimentares usados na produção de biocombustíveis

A importância dos óleos alimentares usados na produção de biocombustíveis

Há cerca de vinte anos, a recolha de óleos alimentares usados era razoavelmente eficaz junto dos maiores utilizadores industriais mas bastante incipiente quanto aos volumes captados noutros segmentos do consumo.

Eram quantificados pouco mais de 3.500 m3 oriundos de operadores industriais e existia também a recolha, em quantidade insuficientemente determinada, por parte de operadores que a canalizavam para consumo industriais, no país ou em Espanha.

O imperativo ambiental da recolha de óleos alimentares usados era nessa altura evidente, pois eram recolhidos entre 5.000 a 10.000 toneladas por ano face a uma colocação no mercado de mais de 100.000 toneladas, além de algumas dezenas de milhar de toneladas processadas diretamente pela indústria agroalimentar, sobretudo para confeitaria, margarinas, conservas, e fritura industrial.

Atualmente, uma parcela substancial da utilização dos óleos alimentares refere-se à incorporação em produtos, não dando lugar, no seu consumo, à produção de matérias residuais.

É o caso da incorporação em produtos nos setores da panificação e da confeitaria, no fabrico de margarinas e, também, nas frituras, pois parte substancial dos óleos nelas utilizadas incorpora nos produtos alimentares a elas sujeitos.

Em Portugal, é crescente o recurso a fritadeiras que proporcionam um bom rendimento de utilização, o que acrescenta à tradição de uso dos mesmos óleos para múltiplas frituras.

Por estas razões, o consumo de óleos e gorduras alimentares por incorporação nos alimentos consumidos é largamente maioritário face às quantidades rejeitadas após utilização.

 

Importante dado a registar é o facto de os biocombustíveis serem hoje responsáveis pela quase totalidade da descarbonização que se verifica no setor dos transportes.

Estima-se, deste modo, que o potencial de recolha de óleos alimentares usados, em Portugal, no pressuposto de estabilidade nos níveis atuais de consumo de óleos e gorduras, excluindo azeites, rondará as 30.000 toneladas anuais, às quais poderão acrescer as quantidades a recuperar de gorduras sobrenadantes nas águas residuais urbanas.

Foi atrás referido que os óleos e gorduras usados provenientes da indústria alimentar foram, desde sempre, recolhidos e valorizados; desde 2007/2008, com o advento da produção de biodiesel em Portugal, foi criado e implementado o fluxo específico dos óleos alimentares usados, o qual proporcionou uma maior organização na captação desses óleos no setor da restauração e da hotelaria e, portanto, maior quantidade recolhida no país.

Com a publicação de legislação favorável, proliferaram as iniciativas de pequenos produtores dedicados de biodiesel que proporcionaram a valorização crescente deste resíduo; de acordo com a DGEG, em 2014 foram produzidas cerca de 6.000 toneladas de biodiesel por utilização maioritária deste recurso.

A partir de 2017, uma ligação mais eficaz entre operadores de recolha e produtores de biodiesel tem vindo a permitir uma maior eficácia da recolha no setor da restauração e, também, através do apoio logístico à recolha municipal, daí resultando, certamente, um maior aproveitamento de óleos alimentares usados de origem doméstica, o que é de registar como facto muito positivo.

Os óleos alimentares usados são hoje, em Portugal, essenciais à produção nacional de biodiesel, e tal é patente no conjunto das matérias-primas utilizadas no fabrico de biocombustíveis, os quais têm origem em matérias residuais, na sua maioria, desde 2017.

O biodiesel, parcela renovável e de baixo teor em carbono que é incorporado no gasóleo até 7% em volume, é hoje produzido sobretudo a partir de óleos alimentares usados.

Em 2022, e por análise dos dados oficiais disponíveis – janeiro a setembro –, os produtores nacionais garantiram a incorporação de mais de 210.000 m3 de biodiesel produzido a partir de óleos alimentares usados em 68%, 13,5% com matérias residuais classificadas como avançadas e 16,5% utilizando óleos oriundos de matéria agrícola.

De acordo com a mesma fonte oficial (LNEG), e também nesse período, os biocombustíveis incorporados nos combustíveis importados corresponderam a cerca de 40% do total, recorrendo em cerca de 28% a matérias-primas de origem agrícola e a 55% de matérias residuais classificadas como avançadas.

Desta última origem – matérias avançadas – mais de metade foi constituída por resíduos da produção de óleo de palma (aproximadamente 45.000 m3).

 

Os combustíveis líquidos são, e serão por bastante tempo, essenciais durante a transição energética.

Importante dado a registar é o facto de os biocombustíveis serem hoje responsáveis pela quase totalidade da descarbonização que se verifica no setor dos transportes.

As metas impostas por lei relativas à incorporação de biocombustíveis têm sido sempre cumpridas e as reduções de emissões a ela devidas são superiores a 600 mil toneladas por ano.

Os óleos alimentares usados, quer os de origem nacional quer os de importação são responsáveis pela maioria destas reduções.

Para a evolução dos biocombustíveis, as matérias-primas avançadas são importantes; mas os óleos alimentares usados garantem a maioria do efeito de descarbonização que é pretendido.

Os combustíveis líquidos são, e serão por bastante tempo, essenciais durante a transição energética.

Os biocombustíveis constituem uma parcela indispensável dessa realidade e, não estando esgotado o seu potencial, há lugar a objetivos mais ambiciosos para o seu papel na descarbonização dos transportes.

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