
A luta pelo controlo do mercado de eletricidade
Ao fim de um ano de intensa luta em Bruxelas, os governos espanhol e português conseguiram desacoplar o preço do mercado ibérico grossista de eletricidade do custo do gás natural.
A razão é simples de explicar: como as energias renováveis e a nuclear não aumentaram um cêntimo com a subida do gás natural, não faz sentido os consumidores pagarem esta energia renovável ao elevado preço das centrais de ciclo combinado a gás natural. Estamos a ser duplamente penalizados por termos investido nas energias renováveis.
A solução adotada foi estabelecer um preço máximo do gás natural para o mercado de eletricidade, cerca de 50€/MWh o que determina um preço máximo para a eletricidade produzida, considerando a eficiência das centrais e o mercado de licenças de CO2 em 120€/MWh. A este valor e nas horas em que os comercializadores consumirem esta energia terão que pagar o custo restante do gás natural.
As empresas incumbentes lutaram contra esta alteração apesar de não terem qualquer prejuízo e não gerar qualquer défice para os sistemas elétricos. Note‑se que a diminuição da concorrência que se verificou neste último ano lhes deu um acrescido controlo do mercado elétrico.+ O êxito e durabilidade deste mercado deveu‑se à concorrência entre as centrais a carvão e o custo de oportunidade das hídricas com armazenagem. As centrais de ciclo combinado a gás natural dada a sua flexibilidade de exploração contribuíam para a segurança dos sistemas elétricos.
A saída das centrais a carvão e a já anunciada saída das centrais de ciclo combinado, diminuiu a oferta de energia e provocou uma alteração estrutural deste mercado com efeitos de curto e medio prazo nas tarifas. As tecnologias das centrais renováveis, agora maioritárias, têm custos variáveis praticamente nulos ao contrário do anterior paradigma.
Esta alteração, parece ser por agora, a alternativa possível e aceitável. Porém, a sua eficácia dependeria da possível concorrência que se conseguisse entre os custos de oportunidade da hídrica armazenada e os elevados custos do gás natural. Dado o curto espaço de tempo da experiencia, termina em Maio de 2023, esta concorrência dificilmente poderá ocorrer. Com esta fragilidade, a solução mais rentável para as incumbentes será utilizarem intensamente o gás natural, reduzirem a eólica e hídrica contornando a eficácia desta medida, penalizando os consumidores, a descarbonização do sistema elétrico.
As empresas incumbentes não abdicarão do controlo das mais‑valias que este mercado está a gerar.