Adaptação das redes à transição energética
Moderador: José Medeiros Pinto, consultor
Oradores: Ricardo Loureiro, Vogal do Conselho de Administração da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE); João Faria Conceição, Administrador Executivo da REN; José Ferrari Careto, Presidente do Conselho de Administração da E-REDES; Antonella Battaglini, CEO da Renewables Grid Initiative.
Adaptação das redes à transição energética: maior investimento e digitalização
Os desafios que se colocam às redes elétricas face à expansão acelerada das renováveis são imensos, tal ficou patente no painel em que participaram representantes da ERSE, da E-Redes, da REN e da RGI (Renewable Grid Initiative). Nem sempre terá sido um debate completamente esclarecedor, mas as grandes ideias e preocupações ficaram bem patentes.
O vogal do seu Conselho de Administração da ERSE, Drº Ricardo Loureiro, chamou a atenção para a necessidade de uma maior otimização das redes face ao desafio colocado pela nova geração de origem renovável que, pelas suas características intrínsecas de variabilidade, induz taxas sub-ótimas de ocupação dos elementos das redes.
Ao mesmo tempo, considerou essencial que o ritmo de investimento das redes venha a ser muito mais moderado do que o próprio crescimento da geração renovável, visto que há uma margem muito grande para o melhor aproveitamento das margens “ociosas” dos elementos da rede, dando como exemplo de ações com impacto nesta área, a possibilidade de hibridização de projetos, do reequipamento e do armazenamento.
Por seu lado, os Operadores das Redes, representados pelo Presidente do Conselho de Administração da E-Redes, Drº José Ferrari Careto e pelo Administrador Executivo da REN, Engº João Faria Conceição, coincidem na opinião de que as redes precisam de ritmos de investimentos mais elevados.
Contudo, a maioria das medidas anunciadas para conseguir estes desideratos, como o planeamento das redes suportado em modelos probabilísticos e o acesso às redes com “restrições” como está previsto no DL nº15/2022, ainda não registaram avanços concretos nem nos estudos e nem na regulamentação. Apenas o representante da E-Redes referiu o lançamento de um primeiro concurso para projetos pilotos de flexibilidade para a resolução de problemas de gestão e sobrecarga em pontos particulares da rede de distribuição.
Pode concluir-se que este balanço entre a necessidade de controlo do investimento nas redes e a integração de renovável levanta sérios desafios, exigindo uma rede cada vez mais inteligente que requere significativos aumentos na esfera da digitalização, como foi igualmente salientado pela Drª Antonella Battaglini, presidente da RGI - Renewable Grid Initiative.
Seguiu-se um debate bastante interssante sobre o financiamento. Por um lado, o Drº José Ferrari Careto realçou o facto das redes estarem a ficar envelhecidas, o que implica uma acrescida necessidade de investimento. Por outro lado, o Drº Ricardo Loureiro denota a sua preocupação como é que os novos investimentos na rede devem ser financiados, referindo em particular o caso da eólica offshore, referindo que o grande investimento em redes que é necessário fazer possa vir a ser suportado, na sua larga maioria, pelos promotores da geração e não pelo consumidores como é a prática habitual.
Esta orientação, constituiria uma alteração aos procedimentos atuais em que é o consumidor que suporta os encargos com a rede. Caso se venha a aplicar esta metodologia, a mesma poderia vir a ter implicações em várias vertentes da regulação, nomeadamente no sistema remuneratório dos Concessionários das Redes.
A razão de existirem redes fiáveis é um requisito do consumidor. O produtor funciona como um facilitador para atingir o objetivo de garantir, juntamente com as redes, uma alimentação segura e fiável aos consumidores.
Contudo, os oradores foram unânimes ao reconhecer o papel charneira que as redes têm na transição energética e que é necessário um planeamento e uma gestão do sistema cada vez mais sofisticado e suportado por uma maior digitalização e inteligência.
Esta maior inteligência incorporada na gestão das redes facilitará o acesso à rede com flexibilidade e com eventual grau de restrição, quer por parte de nova geração, quer do lado do consumo.
O Administrador da ERSE frisou que o acesso à rede com restrições deve ser visto como uma solução transitória pois o verdadeiro objetivo é atingir a capacidade designada como “firme”, não esquecendo que, em paralelo, é necessário incorporar um elevado grau de flexibilidade na gestão do sistema. Ficou, contudo, por esclarecer se este objetivo de capacidade “firme” se aplica de igual forma tanto ao consumo como à geração e quais são as regras que se estão a desenhar para o acesso à rede com restrições.
A mensagem final foi de um otimismo partilhado por todos em relação ao papel determinante que o armazenamento e a participação ativa e flexível do consumo irão ter para o sucesso da transição custo-eficaz do sistema elétrico, tendo o Presidente da E-Redes salientado a importância de uma maior proximidade da E-Redes e da REN na gestão das expetativas e desafios.
FRENTES