“Água que une”. Será que une mesmo?
Se a gestão da água pode unir países, como Portugal e Espanha, a nova estratégia “Água que une” da Ministra Graça Carvalho, que pretende assegurar uma visão integrada para a gestão, armazenamento e distribuição eficiente da água, deveria merecer que todos os interessados, desde logo os autarcas e os agricultores, se mobilizassem em torno desta oportunidade.
Em primeiro lugar, porque procura acautelar prioridades nacionais: a satisfação das necessidades de todos aqueles que utilizam a água, independentemente do fim, num contexto de crescente frequência e severidade das secas e de escassez hídrica em resultado direto do aumento da procura, mas também das alterações climáticas.
E depois, porque face a um quadro alarmante, o mínimo que se podia esperar é que todos quisessem contribuir para uma ideia que visa defender interesses comuns e pode ser decisiva para o país: preservar os nossos recursos hídricos.
Mas, o que se vai lendo e ouvindo a propósito de intervenções relevantes para a implementação da estratégia, que deverá ser apresentada neste mês de janeiro, levanta dúvidas sobre o seu sucesso. Como de costume, já se começou a ouvir o coro de reclamações e reivindicações. Agricultores locais gritam que “o Alqueva foi feito para o Alentejo” (esquecendo que o Alqueva foi também um grande transvase para a bacia do Sado e não há memória de qualquer algarvio ter sido contra). Uma qualquer associação de Mértola coloca o reforço do abastecimento de água ao Algarve pelo Pomarão em tribunal. Autarcas do Médio Tejo juntam-se contra a localização de um novo açude no rio. E académicos de Trás-os-Montes garantem que os transvases terão consequências ambientais e económicas (dos transvases existentes no país nunca houve notícia de quaisquer problemas e, já agora, porque não também discutir os transvases demográficos ou financeiros para ajudar à tão desejada coesão territorial?).
Estamos conversados em matéria de “Água que une”. Será que une mesmo? Ou será só pré-campanha eleitoral?