
As interligações e as energias renováveis
Tem sido habitual o discurso em Portugal de que a Ibéria é uma Ilha energética. É um facto que o reforço das interligações com França será útil para a Ibéria e para França.
Há uns meses que se registam exportações para a França, com congestionamento das interligações porque mais de metade do parque nuclear francês está fora de serviço.
Esta solidariedade que as interligações proporcionam não se pode confundir com políticas públicas que incentivem o excesso de produção de energia renovável para ser exportada para França. O valor acrescentado será sempre muito baixo. A energia nuclear uma vez restabelecida fará os preços que a tutela entender convenientes para a sua indústria como sempre fez. Ninguém demonstrou até hoje que essa política energética seja útil para o país.
Convém relembrar que o acordo do cabo elétrico pelo golfo de Biscaia só se concretizou quando a Rede Elétrica de Espanha começou a estudar uma ligação a Inglaterra via Galiza. Pensar que é possível construir novas interligações pelos Pirenéus com a forte oposição dos ambientalistas é uma fantasia.
O recente acordo entre Portugal, Espanha, França e Alemanha sobre o reforço das ligações de gás natural a França ligando Barcelona a Marselha tem sido objeto de algumas críticas inflamadas em Portugal. É importante perceber que esta proposta do governo Francês só apareceu após Portugal e Espanha terem iniciado negociações com Itália para um gasoduto Espanha/Itália.
A bárbara invasão da Rússia à Ucrânia criou um novo paradigma na segurança de abastecimento da Europa: vai obrigar a diversificar os abastecimentos energéticos.
A Ibéria tem uma infraestrutura já parcialmente amortizada que pode disponibilizar sem investimentos significativos, nem custos ociosos no fim do ciclo do gás natural a que a transição energética obriga.
Novas infraestruturas, supostamente mais baratas, obrigarão a suportar grandes custos ociosos nas tarifas, já que teriam que ser abandonadas antes do período de fim de vida útil.
A crítica nacionalista de que o porto de Sines é prejudicado por Barcelona não faz sentido. Os metaneiros que vêm dos USA, da Trindade e Tobago ou de África vão continuar a escolher Sines.
O paradigma da energia na Europa mudou. Este acordo tem condições para ser cumprido ao contrário dos anteriores. É o acordo possível. Para Portugal melhorar as interligações com a Europa é sempre uma boa notícia já que de certa forma somos uma ilha para além da ilha.