
Captura de carbono - porque acreditamos?
Para atingirmos a neutralidade carbónica em 2050, meta com a qual a Europa, e Portugal também, se comprometeu e que é considerada essencial pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) para limitar o aquecimento global em 1,5º, não são suficientes as soluções que visam reduzir as emissões de dióxido de carbono e de outros gases com efeito de estufa (GEE) para a atmosfera. Precisamos também de soluções que permitam capturá-lo, de forma a que a equação final entre o CO2 emitido e o CO2 sequestrado resulte nula, como se pretende.
É neste contexto que acreditamos que as soluções de Captura, Uso e Armazenamento de Carbono (em inglês CCUS - carbon capture, utilisation and storage) têm um papel importante e oportuno a desempenhar no combate às alterações climáticas. Esta perceção tem-se consolidado ainda mais no âmbito da nossa própria atividade, porque estamos efetivamente no terreno enquanto fornecedores de soluções de descarbonização, despoluição e regeneração de recursos.
Ao serviço da descarbonização temos hoje mais de 100 soluções totalmente maduras, nas áreas da água, energia e resíduos, como por exemplo a eficiência energética, a incorporação de combustíveis baixos em carbono, a valorização energética de resíduos, a reutilização de águas residuais, a incorporação de materiais reciclados nas cadeias produtivas, entre outras. No entanto, sabemos já hoje que não são suficientes. A meta da neutralidade carbónica exige que se vá mais longe e requer uma transformação mais profunda. E é aqui que, na Veolia, vemos a captura de carbono como um exemplo promissor de inovação em curso.
Hoje no mercado já existem várias tecnologias e uma das perguntas que nos fazem recorrentemente é: quais as melhores? As soluções que têm por base aminas são as mais maduras e prontas a serem implementadas no curto e médio prazo. No entanto, e é importante dizê-lo, em todas as nossas atividades somos sobretudo integradores de soluções. Isto quer dizer que ao mesmo tempo que testamos algumas das tecnologias disponíveis, temos consciência do quão importante é prepararmo-nos para o futuro e mantermo-nos a par de outras e novas tecnologias que possam vir a resolver aspetos menos positivos das atualmente existentes.
Outra pergunta frequente é se a CCUS é uma solução de aplicação generalizada ou se faz mais sentido em setores específicos? Há setores onde sabemos já que a CCUS pode dar um contributo mais efetivo para a neutralidade carbónica. Refiro-me à compensação daquelas emissões mais difíceis de evitar, como são as dos chamados setores “hard-to-abate”, onde se incluem as indústrias do aço, do alumínio, do cimento, petroquímica e de fertilizantes.
Na Veolia, a nossa primeira instalação piloto está em operação há quase dois anos na Índia, numa fábrica de aço do grupo Tata Steel, onde a Veolia é operadora. Com uma capacidade de 5 toneladas por dia, captura o CO2 libertado pelos gases de uma caldeira, sendo esse CO2 capturado reutilizado na própria instalação, o que tem permitido ao cliente reduzir as emissões tanto do Scope 1 como do Scope 3.
Outra área, especialmente interessante, é a captura de carbono em centrais de valorização energética de resíduos. Hoje a Veolia opera mais de 50 instalações na Europa deste tipo. É um excelente caso para entendermos bem as potencialidades da solução. Todos sabemos que a energia produzida a partir de resíduos, quando comparada com a energia produzida a partir de combustíveis fósseis, tem uma pegada carbónica bastante mais reduzida, dando já por si só um importante contributo para a descarbonização. Mas um processo de incineração de resíduos também emite CO2. Assim, através de uma solução de CCUS estaremos a compensar essas emissões que não conseguimos evitar e por essa via a tornar a instalação neutra ou mesmo negativa, no seu balanço global.
No entanto, tão importante quanto realizar essa captura é entendermos de que forma a montante poderemos usar esse CO2. E nesse campo as potencialidades são também muitas: quer o seu uso diretamente na indústria, quer a sua transformação em produtos de baixo carbono com o metanol ou em combustíveis para a aviação.
Então se há tantos pontos positivos porque não avançamos mais depressa? As necessidades energéticas associadas ao processo de captura são uma das dificuldades inerentes. Também as questões operacionais decorrentes da integração da solução em instalações fabris pré-existentes é outra. Mas sem dúvida que hoje um dos desafios mais exigentes que persiste remete para os investimentos adicionais necessários para desenvolver e executar projetos em larga escala. É por isso que acreditamos ser fundamental a articulação de vários players - Estado, administração local, empresas privadas, regulador - que agindo de forma concertada possam conduzir a uma implementação de maior escala.
Na Veolia queremos fazer parte deste caminho de transformação. E acreditamos que Portugal, à semelhança do que tem acontecido noutros domínios da descarbonização das atividades económicas, pode ocupar um lugar na dianteira. Avançamos juntos?