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Cortes na produção renovável serão evitáveis?

Cortes na produção renovável serão evitáveis?

No passado dia 5 de abril de 2024 foi dada uma ordem de redução de potência (corte) a cerca de 2500 MW de potência, de origem eólica e solar.

Era um episódio expetável, mas foi bizarro, pois nessa mesma altura registava-se um valor de importação de cerca 1500 a 2000 MW, conforme o REN Data Hub. Ou seja, se nessa altura o sentido das trocas comerciais tivesse sido no sentido exportador, não teria havido a necessidade de realizar qualquer corte.

A nossa significativa capacidade técnica de exportação não foi utilizada neste período de corte, ou seja, ela não é o garante para que se consiga exportar o “excesso” da produção renovável volátil.

Mas será que o pedido de redução de potência teve origem em problemas técnicos de estabilidade na exploração da rede, hipótese avançada pelo jornalista Miguel Prado? Não creio que tenha sido esse o caso, pois o sistema português tinha muita geração hídrica em operação, a qual assegura a necessária inércia e a estabilidade do sistema.

"Fica então por responder qual a origem desta ordem de redução instruída pela REN. Terá sido por restrições técnicas, por erros de previsão ou outros motivos?"

Fica então por responder qual a origem desta ordem de redução instruída pela REN. Terá sido por restrições técnicas, por erros de previsão ou outros motivos?

O tema deve, contudo, ser analisado numa ótica mais ampla, a ibérica.

Em Espanha tem-se verificado que as ordens de redução de potência às tecnologias solar e eólica têm sido bastante frequentes, em especial nestes dias de primavera, atingindo, nalgumas ocasiões, valores significativos da ordem de alguns milhares de MW . Por exemplo, no dia 4 de abril houve um corte na potência de solar, mas no dia 5 (quando em Portugal se verificou o corte) não houve evidências de ter havido qualquer ordem de redução de valor expressivo. Mas, nos dias seguintes esses cortes voltaram a verificar-se. Ou seja, no dia 5 coincidiram situações de operação em cada um dos sistemas ibéricos, que não tiveram paralelo quer nos dias anteriores quer nos seguintes.

"Neste contexto, e tendo em consideração os significativos novos montantes de potência solar que já está em construção ou licenciada,  quer em Espanha quer em Portugal, é expetável que os períodos de “corte” de potência às renováveis sejam cada vez mais frequentes e profundos."

Neste contexto, e tendo em consideração os significativos novos montantes de potência solar que já está em construção ou licenciada,  quer em Espanha quer em Portugal, é expetável que os períodos de “corte” de potência às renováveis sejam cada vez mais frequentes e profundos.

Também se pode concluir que a capacidade de interligação não constitui um contributo significativo para resolver esta situações de “cortes”, pois a produção solar nos dois países ibéricos está muito correlacionada.

"O que poderia atenuar esta tendência e minimizar os seus efeitos negativos seria o aumento dos consumos, através da expansão da eletrificação ou do surgimento de novos tipos de carga, incluindo a bombagem, mas a prática tem vindo a mostrar que o crescimento do consumo tem-se mostrado bem mais difícil de concretizar do que o aumento da produção."

O que poderia atenuar esta tendência e minimizar os seus efeitos negativos seria o aumento dos consumos, através da expansão da eletrificação ou do surgimento de novos tipos de carga, incluindo a bombagem, mas a prática tem vindo a mostrar que o crescimento do consumo tem-se mostrado bem mais difícil de concretizar do que o aumento da produção.

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