
De oito para oitenta
Quando ainda se ultimava a preparação de medidas para combater ou evitar a escassez de água em contexto de secas, eis que já contabilizamos ajudas para acudir aos prejuízos causados pelas cheias.
A situação não é nova, só que por vezes a memória parece querer atraiçoar-nos. Passamos rapidamente de uma situação de seca para uma situação de cheias. E esta aparente abundância de água até pode provocar, paradoxalmente, uma situação de falta de água, como aconteceu de novo em alguns locais em que as inundações causaram danos nas redes de distribuição de água. Sabemos que estes fenómenos extremos acontecem periodicamente e quais são as suas características. O que acontece é que, muitas vezes, as infraestruturas ou não existem, ou não estão à altura para uma adequada resposta a estas situações. Tanto nas secas como nas cheias. Na componente atmosférica do ciclo hidrológico, há ainda muito a aprender como o que podem vir a ser, na realidade, os efeitos das alterações climáticas. Mas isso não pode servir de desculpa para as respostas insuficientes que ainda existem na componente terrestre, mesmo para as condições anteriores aos cenários de alterações climáticas.
No caso das cheias e inundações, sejam dos grandes rios ou em pequenas bacias urbanas, há seguramente ainda muito por fazer, em particular a implementação de sistemas de aviso e alerta, bem como a construção de um conjunto de soluções adequadas à mitigação dos efeitos com base nas melhores práticas conhecidas. No caso do combate às secas, reconhece-se que além das tradicionais origens de águas superficiais e subterrâneas, existem hoje outras importantes origens, tais como a reutilização de águas residuais tratadas, a dessalinização, ou mesmo outra que não tem sido muito abordada, que é a chamada “água virtual”, que resulta da importação de produtos que consumiram água na origem.
Além disso, não nos podemos esquecer de uma outra “origem” de grande importância, que abrange todos os usos: a eficiência do uso da água que, tendo como objetivo a redução dos consumos, conduz à redução das necessidades de captação. Além disso, a eficiência conduz também a expressivas reduções de consumo energético. Em boa hora muitas entidades responsáveis começaram a desenvolver planos de adaptação às alterações climáticas, tendo em vista uma melhor resposta dos sistemas aos serviços de água (abastecimento e águas residuais) e um conjunto de medidas de adaptação. Os tempos que vivemos exigem uma forte capacidade de planeamento, que contemple as melhores tecnologias disponíveis para uma atempada preparação e resposta a situações adversas que, seguramente, iremos continuar a ter.