
Importância de soluções digitais na gestão de ETAR
O papel da tecnologia no setor do tratamento de águas residuais é intrínseco ao próprio desenvolvimento do setor e crucial na obtenção dos níveis de tratamento cada vez mais exigentes para a descarga em meio hídrico, contribuindo significativamente para a minimizar o impacto da nossa atividade sobre os ecossistemas.
No entanto, os avanços da tecnologia têm sido aplicados em diferentes áreas ao longo dos tempos. De uma forma simplista, podemos até pensar nessa evolução tecnológica em etapas.
A primeira etapa, passou sem dúvida, por garantir uma eficiência cada vez maior nos processos de tratamento, com o propósito de obter um efluente tratado capaz de cumprir os limites de descarga, com o desenvolvimento de várias tecnologias de tratamento biológico, estando hoje bastante implementadas, e com excelentes resultados práticos. Este é um caminho que ainda não terminou. Aliás, para que possamos estar sempre preparados para garantir uma maior qualidade, ou até manter as condições de subsistência dos ecossistemas, a procura contínua por sistemas ainda mais eficientes e abrangentes, em termos de capacidade de tratamento, afigura-se fundamental.
A etapa seguinte do avanço tecnológico centrou-se no desenvolvimento e na aplicação de sistemas de automação, conferindo uma monitorização dos processos de tratamento através da transmissão dos dados provenientes de todos os sensores instalados para um sistema centralizado de telegestão, permitindo assim atuar sobre os equipamentos em tempo real face aos eventos. Esta inovação transformou o modo de exploração das instalações, permitindo não só uma operação mais eficiente, como também uma maior capacidade de previsão em relação a eventos extremos, como aumentos de caudal, variações de condutividade e outros parâmetros críticos.
Contudo, apesar de este sistema de telegestão permitir melhorar a operação das instalações e garantir uma eficiência na exploração, ainda se revela insuficiente para assegurar uma gestão dos ativos completa e correta.
Para alcançar uma gestão verdadeiramente eficaz, torna-se necessário avançar para soluções que permitam trabalhar toda a informação associada ao processo de tratamento, incluindo os dados de projeto e todas as características dos equipamentos instalados, relacionando-os com os registos diários da operação. Atendendo à complexidade dos processos operacionais na ETAR, a gestão das infraestruturas físicas e dos equipamentos não pode estar dissociada da eficiência global do tratamento, e tem de ser encarada como algo mais do que a simples análise de estado de funcionamento.
O avanço que a automação conferiu à exploração da ETAR pode agora ser ampliado com a capacidade de soluções digitais, através de programas avançados que integram e analisam dados em tempo real, conferindo um nível mais sofisticado de telegestão, e garantindo uma gestão eficaz, preditiva e sustentável
Por tudo isto, acredito que a nova etapa do avanço tecnológico será, sem qualquer dúvida, a digitalização. O avanço que a automação conferiu à exploração da ETAR pode agora ser ampliado com a capacidade de soluções digitais, através de programas avançados que integram e analisam dados em tempo real, conferindo um nível mais sofisticado de telegestão, e garantindo uma gestão eficaz, preditiva e sustentável.
Atualmente, já existe uma excelente capacidade de sensorização, que nos permite abordar de uma forma diferente os processos de tratamento, sendo para tal necessário a correta transmissão de dados, e consequente análise, pelo que é muito importante selecionar um bom software de análise. Mas ainda assim, continuamos a focar demasiado no processo e a descurar a otimização da gestão dos ativos.
Neste contexto, o trabalho que estamos a desenvolver na ETAR de Campo representa um passo decisivo. A construção de uma ferramenta Digital Twin que irá criar uma réplica virtual da ETAR, permitirá simular cenários, prever comportamentos e otimizar a operação e manutenção, através de uma plataforma inovadora que permitirá integrar, numa única interface, a gestão da manutenção e da operação das infraestruturas.
Com a aplicação de um modelo de réplica da ETAR, através dos seus dados de projeto e de exploração, como é o caso do Digital Twin, será possível garantir uma visão contínua do estado dos ativos, identificando variações de desempenho, detetando anomalias e evitando colapsos com impacto significativo. Também será possível antecipar e avaliar os investimentos cruciais, quer em novos equipamentos, quer em mudanças nos processos operacionais.
A implementação desta solução digital na gestão dos ativos representa um avanço significativo rumo à eficiência, sustentabilidade e inovação. Apesar dos desafios de implementação, os benefícios a longo prazo justificam o investimento.
O trabalho que estamos a desenvolver confere-nos uma oportunidade ímpar para otimizar processos, melhorar a eficiência operacional e assegurar a resiliência e a sustentabilidade a longo prazo das instalações de tratamento de águas residuais, não apenas nas nossas concessões, como é o caso da ETAR de Campo, mas em todas as instalações cuja operação foi confiada à Be Water.