
Internacionalização do Cluster Português da Água: retrospetiva dos últimos 12 anos
Desde o arranque da sua atividade, tem sido prática da PPA iniciar cada ano com a realização de um inquérito aos seus membros e demais empresas portuguesas com atividade internacional no setor da água, designado por “Balanço da Internacionalização”.
Atendendo a que foi recentemente concluída a 12.ª edição deste estudo, naturalmente dedicada ao exercício de 2024, parece-nos oportuno procurar retirar algumas conclusões relativas a este período.
Antes de começar, alguma cautela: o número de respostas tem variado ano a ano, entre um mínimo de 50 e um máximo de 100. Adicionalmente, a composição desta amostra também varia todos os anos. Finalmente, os dados individuais são mantidos sob reserva e não são sujeitos a procedimentos de validação.
Quando pensamos no que é o nosso setor da água, existe uma natural tendência para pensarmos nas entidades gestoras de serviços urbanos de águas e em entidades gestoras de empreendimentos de fins múltiplos, caso da EDIA. Apesar de várias destas entidades terem iniciativas internacionais muito interessantes (e com externalidades positivas para outros membros do cluster), em termos financeiros, não deixam de ter uma expressão reduzida.
Consequentemente, o universo caracterizado através deste inquérito da PPA é essencialmente composto por empresas posicionadas “a montante” na cadeia de valor do cluster da água. Falamos de: estudos, consultoria e projetos de engenharia; construção de infraestruturas e instalação de sistemas; fiscalização; fornecimento de equipamentos; serviços de operação e manutenção e variadíssimas formas de assistência técnica (desde soluções TIC a ações de capacitação).
Em termos de grandes números, poderíamos caracterizar este “cluster exportador”, como tendo um volume de negócios global situado entre 1 e 1,7 mil milhões de euros, empregando entre 8 a 12 mil colaboradores diretos. Em termos médios, temos empresas com 25 milhões de euros de faturação e 175 colaboradores.
Naturalmente, a maioria destas empresas atua em vários “verticais”: apenas cerca de 40% do seu volume de negócios é gerado no setor da água. Se tivermos presente que a mesma percentagem diz respeito a atividades internacionais, chegamos à estimativa de que as atividades internacionais do nosso cluster da água têm gerado anualmente para a economia portuguesa um valor entre 150 e 250 milhões de euros.
Em termos de tendências de evolução, como o gráfico seguinte documenta, poderíamos decompor os últimos doze anos nas seguintes fases:
- Até 2015, o crescimento internacional foi um elemento essencial para mitigar o pouco dinamismo (ou mesmo retração) no mercado nacional;
- Até 2019, manteve-se um moderado crescimento internacional, a par de uma visível retoma do mercado doméstico;
- 2020 foi claramente um ano de “derrapagem pandémica”;
- Todavia, desde 2021, temos voltado a observar uma tendência de crescimento, quer no mercado nacional, quer em termos internacionais.
Ao longo dos últimos doze anos, 50% das empresas têm anualmente reportado a concretização de entrada em novos mercados geográficos, em muitos casos, fora das tradicionais “zonas de conforto” para as empresas portuguesas
Durante este período, cerca de 55% destas empresas participam regularmente em concursos internacionais, especialmente nos financiados pelas Instituições Financeiras Multilaterais, refletindo o seu atrativo em termos de mitigação de exposição financeira. Com efeito, o cluster da água representa um quarto do número de adjudicações das multilaterais a empresas portuguesas e quase 20% do valor total adjudicado no período 2011-2022. São projetos geograficamente concentrados na África sub-sahariana e concursos predominantemente financiados pelo Banco Mundial.
Ao longo dos últimos doze anos, 50% das empresas têm anualmente reportado a concretização de entrada em novos mercados geográficos, em muitos casos, fora das tradicionais “zonas de conforto” para as empresas portuguesas. Neste sentido, além da identificação de parceiros locais com um perfil adequado, tem-se assistido a uma maior ênfase na constituição de parcerias com parceiros de âmbito internacional, passíveis de ser instrumentais na “abertura de portas” em múltiplas geografias.
Mais recentemente, em termos de enfoque geográfico, como a figura seguinte ilustra, além das geografias tradicionais, temos assistido a um crescente interesse em mercados da União Europeia (onde destacaríamos Espanha) e da zona do Golfo Pérsico.
Nota: “nuvem de palavras” elaborada com base na frequência das respostas.
A todas as empresas e centros de investigação que, ao longo destes doze anos, têm participado no “Balanço da Internacionalização”, o nosso agradecimento pelo generoso contributo.
Marcamos encontro para a próxima edição da Expo Conferência da Água, onde, em parceria com o Jornal Água&Ambiente, contamos celebrar uma nova geração de sucessos internacionais das nossas empresas no setor da água!