Mal-estar na economia circular

Mal-estar na economia circular

Segundo um relatório recente produzido pela Associação ZERO, a Economia do Bem-Estar encontra-se entre nós bastante indisposta. O relatório incidiu numa primeira avaliação comparativa de um conjunto de indicadores entre Portugal e a média dos países da OCDE. A Economia do Bem-Estar bem merece a atenção que a Zero e alguns países que integram a rede Wellbeing Economy Governments UE lhe dedicam. Nela está generalizadamente assumido que os tradicionais indicadores de crescimento e desenvolvimento centrados nos PIB, não sendo dispensáveis, se revelam não só insuficientes como até potencialmente enganadores.

A atenção crescente que tem vindo a ser dedicada à perceção subjetiva das populações sobre a vida que levam e o futuro que se lhes perspetiva tornou-se indispensável e politicamente crítica. É assim que hoje há casos de países com PIB a crescer, mas com populações insatisfeitas, em comparação com países com PIB estacionários ou mais baixos, mas com populações esperançadas e esperançosas.

A resposta está, nalguns casos, em coisas tão óbvias, como os apoios sociais, e também tão clássicas, como a educação, a cultura a participação cívica.

Vem isto a propósito de um dos indicadores que apresentam pior desempenho comparativo no estudo da Zero sobre Portugal ser o da Economia Circular. Se as causas são muitas, ao centro delas está uma falência educativa num país que atravessou ruturas de carácter cultural e educativo transversais a todos os agentes económicos — desde as empresas ao pequeno consumidor (em artigo anterior chamámos, aliás, a atenção sobre o baixo índice de reciclagem dos resíduos urbanos, que este relatório reconfirma).

A educação e a cultura sozinhas não resolvem tudo, mas sem se começar por elas nada consegue ser resolvido. O bem-estar em Portugal, tal como nos países da OCDE, depende largamente da continuidade, profundidade e extensão das políticas educativas que instalam na cidadania um sentido de responsabilidade cuja consequência direta mais imediata será o reconhecimento de uma qualidade de vida melhorada e com propósito.

O nosso péssimo desempenho no indicador da economia circular precisa de políticas sectoriais e transversais de investimento, desde o design à investigação industrial, passando pela desburocratização, pelo marketing, cooperação e parcerias. Mas precisamos cada vez mais também de expandir a educação e cidadania ambiental. Sem isso, não é possível desencadear dinâmicas de circularidade sustentável que nos deixem passar da economia indisposta à do bem-estar.

Topo
Este site utiliza cookies da Google para disponibilizar os respetivos serviços e para analisar o tráfego. O seu endereço IP e agente do utilizador são partilhados com a Google, bem como o desempenho e a métrica de segurança, para assegurar a qualidade do serviço, gerar as estatísticas de utilização e detetar e resolver abusos de endereço.