MIBGAS publica o primeiro preço de hidrogénio renovável na Península Ibérica
Foi ontem publicado, pela primeira vez, o, também, primeiro índice relativo ao Hidrogénio com classificação de “renovável” no contexto do mercado ibérico.
O índice tem a designação IBHYX e é emitido pelo MIBGAS. A sua primeira cotação de 16 de dezembro de 2024 tomou o valor de 5,85 €/kg (que equivale a 148,4 €/MWh).
Este é o primeiro indicador do que será o valor do preço do hidrogénio verde na ótica da oferta do lado do produtor e é revelador do custo da sua produção e do preço ao qual o produtor estará disposto a fechar um contrato de fornecimento.
O hidrogénio está ainda longe de se tornar um produto energético viável. Nem mesmo o valor máximo de 5 €/kgH2 do leilão dos gases de origem renovável (GOR) consegue viabilizar per si uma cadeia de valor com viabilidade económica para fins energéticos. A cotação atual do gás natural do índice TTF ronda os 42 €/MWh. Ou seja, o hidrogénio verde é 3,5 vezes mais caro que o gás natural (sem contar isenções fiscais ou carbónicas).
Como pressupostos principais (há mais) deste índice temos:
1) Um eletrolisador de 50 MW, alimentado por um parque fotovoltaico/eólico dedicado e Power Purchase Agreement de solar e eólico, com 25 anos de vida útil, com cumprimento das regras do ato delegado da Comissão Europeia para H2 de Renewable Fuel of Non-Biological Origin (RNFBO);
2) Um parque fotovoltaico de 58 MWp e eólico de 23 MW;
3) Power Purchase Agreement de horas adicionais de 250 h/ano equivalente de parque fotovoltaico e 750 h/ano equivalente de eólica, a 10 anos ao custo de mercado ibérico e ao qual se adicionam as tarifas de acesso às redes;
4) Um capex do sistema de eletrólise de 1600 €/kW no regime de engineering, procurement and construction com balance of plant electrico e mecânico e desmineralização de água de rede, com fornecimento no ponto/flange de transferência de custódia a 30 bar sem armazenagem;
5) Um opex anual de 2,5% do capex e seguros de 1,5% do capex, com reposição do stack a cada 80000 h a 15% do capex;
6) Uma eficiência de 60%pci (55,5 kWh/kg), com uma degradação de 0,12%/1000h.
Acresce ainda que os bancos só financiam projetos com contratos de escoamento de longo prazo com garantias de contra-parte de primeiro ranking (como é o caso do leilão português de Gases de Origem Renovável (GOR), neste caso garantia soberana). Esta é a realidade do hidrogénio hoje, na Península Ibérica – somente projetos para efuels premium que possam pagar este custo do feedstock H2, ou talvez os do leilão de GOR ao preço base que tenham apoios do PRR e/ou selo IPCEI, Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu. O resto do panorama é ainda fantasia.