O Hidrogénio Verde – Muito se fez e se legislou, mas ainda longe do que é necessário

O Hidrogénio Verde – Muito se fez e se legislou, mas ainda longe do que é necessário

Segundo o jornal online espanhol “El Periódico de la Energia”, o porto de Valencia assistirá nesta terça-feira, dia 17/01/2023, ao primeiro carregamento de hidrogénio, sendo esta a primeira operação deste tipo a ocorrer em qualquer um dos portos existentes em toda a Europa. Esta operação faz parte do projeto H2PORTS, financiado pelo programa Clean Hydrogen JU da União Europeia, e o seu objetivo é testar e validar tecnologias de hidrogénio em máquinas portuárias que operarão sem produzir emissões. Também em Espanha, tive a oportunidade de visitar a maior central de produção de hidrogénio verde atualmente existente na Europa, com uma capacidade eletrólise de 20 MW de potência elétrica, localizada na cidade de Puertollano, e que irá fornecer o hidrogénio para a produção de fertilizantes agrícolas.

São dois exemplos, inegáveis, da dianteira que a Espanha tem hoje (2023) no desenvolvimento do setor do hidrogénio verde, face a Portugal e mesmo em relação a toda a Europa.

Em 2019, Portugal observava o rescaldo do primeiro leilão para a atribuição de licenças de produção de energia fotovoltaica no regime de remuneração geral, com a enorme surpresa do nível até ao qual baixaram os preços para a entrega da energia elétrica, cujo preço mais baixo rondou os 17€/MWh e desde logo muito divulgado como recorde mundial. Com este nível de preço, propusemos a produção de hidrogénio verde e surgiu o projeto âncora de Sines. Portugal tomava a dianteira primeiro que Espanha. Mas hoje vai, factualmente, atrás.

João Galamba foi o rosto de uma grande aposta no hidrogénio verde. A ele devemos e agradecemos tudo isso. Fez tudo bem? Não, ninguém o consegue numa pasta destas

João Galamba foi o rosto de uma grande aposta no hidrogénio verde. Publicou a Estratégia Nacional do Hidrogénio, integrou-o na regulamentação do sistema nacional de gás, enfrentou as tecnicamente infundamentadas oposições “ambientalistas” que tanto atrasaram o licenciamento dos projetos, lançou dois concursos para apoios aos investimentos na produção de gases renováveis, e acabou a sua passagem pela tutela da energia com a publicação das regras gerais dos futuros leilões de hidrogénio e biometano. A ele devemos e agradecemos tudo isso. Fez tudo bem? Não, ninguém o consegue numa pasta destas. Os leilões chegarão com dois anos de atraso, o processo da pré-notificação à Comissão Europeia dos projetos IPCEI está atrasadíssimo, as regras sobre as prioridades (entre produtores) da injeção de H2 nas redes (que as concessionárias de transporte e de distribuição entendem serem decisões do foro político, não técnico) estão por definir, a ideia de Sines poder ser uma solução para a urgência da crise energética alemã veio a revelar-se o que alguns desde logo disseram – uma ilusão, e em relação o novo gasoduto de hidrogénio verde até Espanha, não se sabe quem o pagará; A Comunidade Europeia? Os contribuintes através dos impostos via Orçamento do Estado? Os consumidores através das tarifas de gás natural?

São todos estes dossiês que passam agora para Ana Fontoura Gouveia, cujo percurso académico, investigação e assessoria em áreas das políticas económicas públicas não deixam qualquer dúvida da sua preparação para o cargo, tanto mais pela sua experiência num tema tão atual que é a da renovação/regulação dos mercados elétricos europeus. Será a primeira mulher a ocupar o cargo e terá à sua espera estes e outros dossiês que estão pendentes, alguns há vários anos. Está ainda muito por definir e decidir no hidrogénio, mas uma primeira apresentação já ocorrida, permitiu-me concluir que a sua liderança vai certamente surpreender pela positiva.

Topo
Este site utiliza cookies da Google para disponibilizar os respetivos serviços e para analisar o tráfego. O seu endereço IP e agente do utilizador são partilhados com a Google, bem como o desempenho e a métrica de segurança, para assegurar a qualidade do serviço, gerar as estatísticas de utilização e detetar e resolver abusos de endereço.