O Poder do Armazenamento na Transição Energética

O Poder do Armazenamento na Transição Energética

O mundo vive em euforia com as energias renováveis que a cada dia ganham maior destaque. A Europa promete tornar-se no primeiro Continente neutro em carbono até 2050. O Primeiro-Ministro, António Costa, já estabeleceu uma meta ambiciosa para Portugal: 80% de energia renovável até 2030.

A crescente consciencialização sobre os impactos negativos dos combustíveis fósseis, assim como a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases com efeito estufa para combater as mudanças climáticas são desmentidas pela realidade porque, apesar dos avanços nas energias renováveis, o mundo ainda é amplamente dependente dos combustíveis fósseis. Segundo a Agência Internacional de Energia, em 2020, o petróleo, o carvão e o gás natural representaram aproximadamente 80% do abastecimento energético global, enquanto as fontes renováveis contribuíram com cerca de 15% e a eletricidade nuclear com os restantes 5%.

Esta dependência das energias “sujas” é mais notória no setor de transportes, onde o consumo de produtos petrolíferos continua a ser predominante, bem como na indústria e na produção de eletricidade, que contam com uma significativa utilização de gás natural. Também o carvão continua a ser uma importante fonte de energia para a geração de eletricidade em muitos países do mundo.

O Conselho Europeu tem vindo a insistir na necessidade de acelerar a transição energética e na urgência de reforçar o mercado europeu da energia. A Europa luta pelo acesso justo à energia e pela garantia da segurança do abastecimento energético no espaço europeu. Esta ambição passa também pela eficiência energética, pelo desenvolvimento de energias renováveis e pela intensificação das interconexões das redes de energia entre os Estados-Membros. 

Recentemente, a Comissão Europeia apresentou a tão aguardada proposta de reforma dos mercados de eletricidade, em resposta a uma das maiores crises energéticas de sempre, que se agravou ainda mais com a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Com a presente reforma, a Comissão pretende reduzir os efeitos adversos da volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis na Europa e atualizar o desenho do mercado de eletricidade para um novo paradigma do sistema elétrico, com uma forte aposta nas energias renováveis.

No processo de transição energética, o desalinhamento entre a produção de energia renovável e o consumo é evidente. A natureza intermitente e não controlável das fontes renováveis muitas vezes resulta em momentos em que a produção excede a procura ou quando a procura excede a produção. É nesta fase crítica que os sistemas de armazenamento de energia se tornam indispensáveis. Estes sistemas permitem que o excesso de energia produzido, em momentos de alta geração, seja armazenado para uso posterior, quando a produção é menor ou a procura é maior.

Os sistemas de armazenamento de energia são cruciais na transição energética ao garantirem uma disponibilidade contínua de energia renovável, fortalecendo o fornecimento contínuo de energia, reduzindo a dependência dos combustíveis fósseis e promovendo a sustentabilidade ambiental.

Atualmente, há um vasto leque de soluções e tecnologias de armazenamento de energia em desenvolvimento e utilização, como baterias, hidrogénio verde, armazenamento térmico ou armazenamento de ar comprimido. De resto, Portugal tem sido pioneiro na implementação de sistemas de armazenamento de energia renovável. O lançamento do programa de armazenamento de energia renovável em 2019 é um exemplo claro do compromisso do país em impulsionar essa área. Também o Plano Nacional de Recuperação e Resiliência prevê financiar investimentos em hidrogénio e gases renováveis que apoiam projetos de armazenamento de energia, contribuindo desta forma para uma estratégia nacional para o armazenamento, cujo objetivo é instalar 1 GW de capacidade de armazenamento de energia até 2030.

A nível europeu, a Comissão Europeia apresentou, em março último, o Net-Zero Industry Act, o plano que tem por objetivo aumentar a capacidade de produção da União Europeia de tecnologias que apoiam a transição para energias limpas para uma indústria mais verde.  Uma das prioridades do Net-Zero Industry Act é precisamente a construção de uma indústria de baterias na Europa, em resposta a países como a China e os Estados Unidos.

De igual modo, o pacote “Fit for 55”, que visa a redução das emissões de gases de efeito estufa em 55%, até 2030, na Europa, disponibiliza auxílios estatais para que os Estados-Membros apoiem investimentos em energias renováveis e no armazenamento energético.

O futuro energético nacional, no médio e longo prazo, passa pela eletrificação da sociedade através do uso generalizado de energia renovável, e o armazenamento de energia desempenha um papel fundamental nesta transição para um sistema sustentável e livre de emissões. Para cumprirmos este desafio, é necessário acelerar o investimento na capacidade de armazenamento do país, que deve ser feito através de baterias, muitas delas associadas a parques eólicos e solares fotovoltaicos, mas também a parques eólicos offshore.

O armazenamento de energia está também interligado às comunidades de energia e ao autoconsumo, por serem peças essenciais para a transição e formação de sistema energético mais descentralizado, sustentável e resiliente.

O armazenamento de energia é a chave para uma transição energética bem-sucedida, pois garante o equilíbrio entre a oferta e a procura, permite a integração eficiente de fontes renováveis intermitentes e assegura um fornecimento contínuo e confiável de energia. É o impulso que precisamos para construir um futuro sustentável e livre de carbono.

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