
O tempo para agir é agora
Francisco Ferreira, Presidente da ZERO, reeleito para o mandato 2025-2028.
Num tempo marcado por incertezas profundas e transformações globais aceleradas, e no ano em que a ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável comemora dez anos, identificar as prioridades para os próximos três anos é indispensável no sentido de assegurar uma intervenção cada vez maior e mais qualificada da organização na sociedade e com a sociedade.
Atravessamos uma conjuntura especialmente complexa, com o crescimento da extrema-direita na Europa, alterações relevantes na política externa de parceiros estratégicos como os Estados Unidos e múltiplos conflitos armados que ignoram de forma flagrante os direitos humanos. Estes fatores ameaçam não só os valores universais, mas também a cooperação internacional em torno do Bem-Comum e da sustentabilidade global.
Ao mesmo tempo, vivemos uma crise ambiental e climática que se intensifica e exige respostas urgentes e estruturais. As alterações climáticas, a perda acelerada de biodiversidade, a pressão sobre os recursos naturais e as desigualdades sociais crescentes exigem uma transformação profunda dos modelos económicos, sociais e políticos. A ciência tem sido inequívoca quanto à urgência de agir. No entanto, apesar das evidências, continuamos a assistir ao reforço de investimentos em combustíveis fósseis e ao recuo em compromissos anteriormente assumidos com a transição energética. Há poucos anos, algumas empresas energéticas procuravam mostrar alinhamento com a sustentabilidade. Hoje, muitas dessas mesmas empresas expressam, sem pudor, o seu compromisso com a exploração fóssil, contrariando frontalmente os alertas da comunidade científica.
A visão da ZERO é a de um mundo justo e equitativo, em que o bem-estar das gerações atuais e futuras está assegurado num quadro de respeito pelos limites naturais do planeta. Esta visão materializa-se através de uma missão centrada em tornar a sustentabilidade o eixo estruturante das políticas públicas, seja a nível nacional ou internacional, por meio do diálogo com decisores políticos e empresas, da articulação com organizações congéneres e da mobilização da sociedade civil através da comunicação, da capacitação e da sensibilização.
A visão da ZERO é a de um mundo justo e equitativo, em que o bem-estar das gerações atuais e futuras está assegurado num quadro de respeito pelos limites naturais do planeta
No plano estratégico, a ZERO propõe reforçar o seu papel como parceiro de referência na definição e debate das políticas públicas nas áreas em que atua.
No que toca aos domínios temáticos da sua intervenção, a ZERO propõe um conjunto articulado de prioridades. Na área das sociedades sustentáveis e da economia, defende um modelo onde o princípio da suficiência seja central - isto é, a ideia de que o bem-estar não depende da acumulação material, mas sim de uma vida com sentido e respeito pelos limites ecológicos. Um objetivo emblemático neste domínio é a aprovação, por larga maioria parlamentar, da Lei das Gerações Futuras, como marco legal de responsabilidade intergeracional. A ZERO quer ainda contribuir para o alinhamento da economia portuguesa com as metas europeias de circularidade, incentivando a prevenção e reciclagem de resíduos e a sustentabilidade nas compras públicas.
No eixo do clima, energia e mobilidade, a ambição da ZERO passa por assegurar que Portugal está alinhado com o Acordo de Paris, alcançando uma redução de emissões na ordem dos 55% até 2028 (tendo como referência o ano de 2005). A nível energético, propõe-se pugnar por atingir, em 2028, 90% de eletricidade proveniente de fontes renováveis, alcançar 49% de renováveis no consumo de energia final e reduzir o consumo de energia primária em pelo menos 35%. No setor dos transportes, pretende-se que 23% do consumo energético tenha origem renovável e que as emissões sejam reduzidas em 35%.
Na área do ordenamento do território, a ZERO quer promover um planeamento equilibrado do uso do solo e influenciar reformas no regime jurídico da avaliação de impacte ambiental, assegurando decisões mais rigorosas e integradas.
Quanto à água e aos oceanos, a ZERO compromete-se com a concretização do bom estado ecológico das massas de água superficiais e subterrâneas, com a promoção da eficiência hídrica em todos os setores e com o cumprimento da meta de conservar 30% da área marítima nacional até 2030, sendo pelo menos 10% sob proteção estrita. Pretende também consolidar a aplicação do princípio da precaução e mobilizar os cidadãos para a proteção do oceano.
Na área da biodiversidade, agricultura e florestas, a ZERO pretende reforçar o investimento público e o envolvimento cívico na conservação da natureza, promover sistemas agroalimentares sustentáveis, com menor impacto ambiental e maior justiça social, e acompanhar ativamente a política florestal e as estratégias de prevenção dos fogos rurais.
A sustentabilidade não pode ser um conceito abstrato, mas uma realidade concreta e mensurável na vida das pessoas e das comunidades. A transição ecológica deve ser uma oportunidade de reconstrução solidária e de valorização da justiça social.
Porque o tempo para agir é agora, e a janela de oportunidade está a fechar-se. Mas com coragem, visão e compromisso, é possível abrir caminhos para um futuro verdadeiramente sustentável.