Plano Geral de Drenagem de Lisboa: meter mãos à obra do século

Plano Geral de Drenagem de Lisboa: meter mãos à obra do século

Lisboa tem infelizmente alguma tradição de “obras de S. Engrácia”.

Desde os 200 anos necessários para a conclusão do Palácio da Ajuda no ano passado, até aos trabalhos de reconstrução do Teatro D. Maria II (entre 1964 e 1977), passando pelos quatro séculos até à instalação do próprio Panteão Nacional não faltam exemplos.

Ao chegar aos Paços do Concelho também me confrontei com uma situação deste tipo. Desde 2004 que tinha sido iniciado pelo então Presidente António Carmona Rodrigues o processo de lançamento do Plano Geral de Drenagem de Lisboa. Considerada uma obra estratégica para prevenir as cíclicas inundações de uma cidade com uma orografia complicada, o PGDL como que andou durante quase 20 anos “de mão em mão”. Por falta de dinheiro, por adaptações de projeto, por insuficiente vontade política, fosse por que razões fosse, a verdade é que tudo não tinha saído do papel.

Decidi meter mãos à obra. Também me avisaram que iria ser uma obra difícil, subterrânea e não geradora de votos. E suscetível de provocar incompreensões por exigir sete frentes de trabalho geradoras de alguns problemas à superfície.

Mas não recuei. Tive até um indesejado aliado: as enormes inundações do passado mês de dezembro, com invulgares níveis de pluviosidade, que permitiram demonstrar a toda a gente a necessidade imperiosa de avançar com o Plano.

Esta é considerada a obra do século em Lisboa. Para além de várias bacias de retenção, este Plano tem nos dois túneis de drenagem a sua espinha dorsal. Um ligará Monsanto a Santa Apolónia, o outro Chelas ao Beato. São estruturas de grandes dimensões, com 5,5 metros de diâmetro que irão captar a água recolhida em dois pontos altos bem como em pontos adicionais ao longo do percurso (Avenida da Liberdade, Santa Marta e Avenida Almirante Reis) conduzindo esse volume de água até ao rio. O primeiro desses túneis – que agora irão começar a ser escavados a 30-40 metros de profundidade – tem cinco quilómetros de extensão e o outro um quilómetro.

Os túneis e as bacias irão permitir captar e armazenar as primeiras águas da chuva que são as mais poluídas por trazerem os resíduos depositados na superfície dos pavimentos conduzindo-as posteriormente às fábricas de água (ETARs) já com um prévio tratamento de decantação, minimizando os efeitos de poluição das águas lançadas no rio.

Mas esta obra, para além de prevenir inundações, vai ter outro efeito fundamental pois vai permitir utilizar água reciclada para lavagem de pavimentos, para regas e combate a incêndios. Isso será possível porque nos túneis vai ser construída tubagem que conduzirá água reciclada das fábricas de água até às bacias antipoluição no sentido inverso ao da drenagem.

Esta água será depois reservada em depósitos independentes alimentando os marcos de água reciclada a instalar na cidade, estruturas de cor roxa distintas dos atuais hidrantes vermelhos abastecidos com água potável.

Esta é uma aposta responsável do Município de Lisboa. Em termos de sustentabilidade. Vamos conseguir poupar como nunca a água potável. E também vamos conseguir diminuir drasticamente os custos financeiros. A Câmara paga uma fatura de 4 milhões de euros à EPAL por 3 milhões de metros cúbicos de água potável que fazem um percurso de mais de 100 quilómetros desde Castelo de Bode. Desse volume, 75% não é usado para fins exigindo água potável, o que representa um verdadeiro “crime ambiental” a que temos vindo a assistir. Por esse motivo sustentabilidade vai significar também economia financeira.

Esta é uma obra de grande fôlego, no valor global de 250 milhões de euros, para a qual pudemos contar com o financiamento do Banco Europeu de Investimentos. Foi feito um enorme esforço de informação e de tomada de medidas que possam minimizar os efeitos para quem circula na cidade como também para os comerciantes e moradores das zonas onde estão instalados os estaleiros.

Estou certo de que, no final destes trabalhos, não teremos mais uma “obra de Santa Engrácia”. Lisboa ficará mais preparada para enfrentar os terríveis efeitos das inundações, ao mesmo tempo que dará um passo de gigante numa política sustentável de utilização de um recurso escasso e precioso como é a água potável.

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