
Valorizar os resíduos através de incineração também é valorizar o ambiente
O PERSU 2030, publicado recentemente, definiu o ritmo a que todos, entidades públicas e privadas, governantes e cidadãos, devemos trabalhar para chegar a taxas de recolha seletiva muito ambiciosas até 2030, num crescimento bastante mais acelerado que o que se conseguiu nos últimos 10 anos do setor.
Apesar de ambicioso, é um trabalho necessário e que exigirá imenso esforço de todos os intervenientes, incluindo um elevado investimento em novas infraestruturas. Neste sentido, é importante não subestimar o papel fundamental que a valorização energética tem neste paradigma e que os exemplos europeus de maior sucesso nos mostram.
Em Portugal, em termos de destinos finais, das cerca de 5 M t/ano de produção de resíduos urbanos, cerca de 1 M t/ano é incinerada pelas Centrais de Valorização Energética (CVE) da Valorsul e da Lipor. Aproximadamente 1 M t/ano são recicladas ou valorizadas organicamente e cerca de 3 M t/ano são enviadas para aterro sanitário.
Na Europa, existem atualmente 501 centrais de valorização energética. Analisando os modelos de tratamento praticados na Europa, o que os dados nos mostram é que os países que conseguem taxas de deposição em aterro inferior a 10% têm, no mínimo, 33% de capacidade de incineração. Este valor varia entre 33% e cerca de 56%, e nos países nórdicos, em que o calor produzido nas Centrais de Valorização Energética tem uma vantagem económica e ambiental local, as taxas de incineração tendem a ser superiores. A Alemanha é o país que se destaca dos restantes pelo cumprimento mais aproximado da hierarquia de resíduos, com uma taxa de deposição em aterro de cerca de 1%, uma taxa de reciclagem de cerca de 67%, e os restantes 33% valorizados por incineração para produção de energia.
Já Portugal teve, em 2019, uma taxa de deposição em aterro de 47%, 19% valorizados por incineração para produção de energia e 29% reciclados (sobram 5% sem informação conhecida).
A CVE da Valorsul, localizada em São João da Talha, trata anualmente cerca de 660 000 t/ano de Resíduos Urbanos (RU), quase 12,5% dos resíduos produzidos em Portugal em 2021, e produz cerca de 390 GWh/ano de energia elétrica, suficiente para abastecer uma cidade de 150 mil habitantes.
Esta instalação tem implementado um programa de monitorização ambiental desde 1999, um ano antes do arranque da sua operação, onde se faz o controlo de todos os impactos relevantes com o apoio de diferentes entidades académicas, nomeadamente qualidade do ar, emissões atmosféricas, ruído ambiente, qualidade de águas e sedimentos, ecossistemas terrestre e estuarino, monitorização da Saúde Pública e Psicossocial. Ao longo dos últimos quase 20 anos de recolha e análise de dados aos parâmetros ambientais da região envolvente da Central, em estudos conduzidos, na sua maioria, por entidades independentes, os resultados são positivos e consistentes: a atividade da Central não revela impactes negativos na qualidade ambiental da envolvente.
Uma das emissões da CVE é o dióxido de carbono (CO2), o qual não é considerado um poluente atmosférico tradicionalmente, mas é um dos principais gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. São vários os instrumentos legais e para-legais que visam reduzir a concentração de CO2 na atmosfera. No âmbito da atividade de incineração, a Valorsul e a Lipor, recentemente, dinamizaram em conjunto uma conferência sobre o tema, para discutir os principais constrangimentos e maturidade atuais da tecnologia.
Este novo paradigma sobre as emissões de CO2 e a importância da incineração no sucesso do cumprimento de metas do sistema integrado de gestão resíduos urbanos nacionais tornam urgente a capacitação do setor nesta temática, estando a Valorsul já a trabalhar para encontrar as melhores soluções que consigam, em simultâneo, responder a este desafio, com um plano abrangente que envolve reduzir as emissões diretas nas nossas operações com maior impacto, contendo o carbono emitido; fazer a transição da atual cadeia de valor de resíduos para uma cadeia de valor de recursos, maximizando a reintrodução de materiais na economia; maximizar a recuperação de valor dos resíduos não recicláveis; encontrar soluções de baixo carbono para todas as futuras e necessárias centrais de tratamentos e sistemas de recolha e transporte e tornar as soluções de operação atuais em opções progressivamente mais verdes.
A captura de carbono nas Centrais de Valorização Energética tem um potencial incrível no caminho para atingir a neutralidade climática, quer numa lógica de armazenamento, quer numa lógica de utilização, contribuindo para a necessária transição, em setores hard-to-abate, como as indústrias marítima e de aviação.