
Luís Mira (CAP): “Crescimento Verde não traz nada de novo à agricultura”
As medidas do Compromisso para o Crescimento Verde propostas pelo Ministério do Ambiente na área da agricultura “não trazem nada de novo ao sector”. Quem o diz é o secretário-geral da CAP – Agricultores de Portugal, Luís Mira.
“Há que desburocratizar processos e facilitar a vida aos agricultores e isso permite à agricultura crescer. E a agricultura quando cresce, cresce verde. Não cresce amarela ou encarnada”, ilustrou o responsável durante a sessão de debate do Compromisso para o Crescimento Verde dedicada à agricultura e florestas que decorreu hoje no Centro Nacional de Exposições, em Santarém.
Luís Mira revela que todas as iniciativas apresentadas são obrigações do Plano de Desenvolvimento Rural, a começar pelas medidas agroambientais até à promoção de utilização de produtos de origem florestal com baixa pegada de carbono.
O Secretário-Geral da CAP, que assumiu protagonizar a “visão do agricultor”, defende sim medidas na área da água e energia. Luís Mira consideraria útil uma medida que incentivasse a produção de energia, por exemplo, não para que o agricultor ganhe dinheiro, mas que diminua os custos energéticos aumentando a competitividade.
A secretária-geral adjunta da CONFAGRI, Maria Antónia Figueiredo, que fez a mesma crítica ao documento, considera “aberrante” que as agro-indústrias que se dedicam à produção de vinho e azeite sazonalmente sejam obrigadas a ter um contrato anual com uma empresa de electricidade quando precisam de electricidade três ou quatro meses por ano.
Maria Antónia Figueiredo, que considerou o documento “pouco ambicioso” e a temática do verde demasiado vaga, considera ainda que deveria ser incentivada a produção de energia a partir de bagaço de azeitona ou das vides das vindimas, promovendo ainda a utilização de energias renováveis.
“À agricultura interessava mais a parte do Crescimento Verde que diz respeito à água, à energia, aos resíduos e à biodiversidade”, realçou, dando o exemplo da importância da criação de massas de água, como as charcas e mini-barragens, aspectos que não são referidos no documento.
Uma necessidade sublinhada pelo ex-ministro da Agricultura e engenheiro agrónomo, Armando Sevinate Pinto. “Quando quero fazer uma charca para regadio complicam-me tanto a vida que quase sou levado a não cumprir as regras”, ilustrou.
O ex-governante lamenta que as consequências das alterações climáticas não estejam plasmadas no documento, no que diz respeito à agricultura, e que culturas como o eucalipto não sejam encaradas nesta temática como “sumidouros de carbono” quando a necessidade de redução de emissões ganha tanta relevância.
No final da sessão o secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Miguel de Castro Neto, defendeu o documento lembando que os intervenientes podem participar nas áreas do Compromisso Crescimento Verde relacionadas com a água, energia, resíduos e biodiversidade, apresentando contributos.
Ana Santiago