Manuel Piedade (Resíduos - Tecnologia): A preparação da implementação dos sistemas PAYT
Em artigo anterior abordámos a importância dos sistemas PAYT na gestão dos resíduos.
Sendo inevitável o avanço para os sistemas PAYT, no entanto, a decisão da sua implementação deve ser avaliada em todos as suas vertentes e objeto de uma cuidadosa preparação.
Previamente à conceção do sistema deverá haver uma fase preparatória de modo a estabelecer-se um quadro subsequente de atuação, em que todos os aspetos envolvidos no desenvolvimento do modelo estejam perfeitamente escrutinados e avaliados em função dos objetivos pretendidos e dos constrangimentos que poderão ocorrer nas diferentes fases da implementação.
Para o efeito será necessário definir um conjunto de etapas e atividades a desenvolver, nas quais se englobam as que a seguir se descrevem.
- Definição dos objetivos e resultados esperados do projeto
A definição dos objetivos a atingir deverá ser elencada a partir de uma check-list elaborada para o efeito e da qual constem por grau de importância cada um deles.
Deverão ser estabelecidos os diferentes objetivos que se pretendem atingir, graduando-os numa escala, em função da importância que face às condições existentes e eficiências pretendidas com a implementação se pretendem atingir.
- Caracterização do modelo de recolha
A caracterização do sistema de recolha existente deverá ser objeto de avaliação tendo em conta a tipologia de ocupação territorial e de habitação, aspetos socioeconómicos, produção de resíduos e sua distribuição por categorias de materiais, meios de deposição utilizados, tipo de viaturas, frequências de recolha, locais de entrega dos resíduos, entre outros aspetos.
Esta caracterização é relevante na medida em que na implementação do sistema PAYT deverão ser avaliadas as alterações relativamente ao sistema em prática e as implicações daí decorrentes, com mais ou menos repercussões nas óticas técnica, financeira e de hábitos das populações a abranger.
- Identificação de fatores críticos para o sucesso
A introdução de um sistema PAYT implica mudanças a diferentes níveis, quer resultante das alterações de hábitos das populações, quer dos meios e equipamentos necessários à sua execução. Como consequência dessas alterações é normal o aparecimento de detratores e de apreensão entre os envolvidos no sistema.
É, pois, fundamental identificar o mais prematuramente possível os fatores críticos que poderão influenciar, nas várias etapas da implementação, o sucesso do sistema e estabelecer as medidas mitigadoras de tais fatores.
- Constituição da equipa de trabalho
A equipa de trabalho para implementação de um sistema PAYT deverá ter em consideração as várias fases do projeto e as valências necessárias à sua concretização.
A equipa deverá também, sempre que necessário, trabalhar em estreita ligação com os elementos operacionais do sistema de recolha para um melhor conhecimento dos procedimentos em vigor e para a análise das modificações que a introdução do PAYT possa provocar em tais procedimentos e que ajustamentos ou alterações deverão ser adotados.
- Identificação dos intervenientes a envolver em cada fase
Na fase preparatória deverão ser identificados os intervenientes a envolver em cada fase da implementação do sistema PAYT.
Para além da população, e dependendo das características e organização administrativa da zona a abranger pelo projeto, deverão ser envolvidos vários intervenientes, cujo contributo para o sucesso das diferentes fases previstas, seja relevante.
- Plano de envolvimento dos intervenientes
O planeamento de envolvimento dos diferentes intervenientes deverá ser estabelecido na fase preparatória, dependendo naturalmente da ação esperada de cada um deles e do momento em tal se concretizará, devendo ter-se em consideração as diferentes fases do projeto.
As ações, dependendo dos intervenientes a abranger, poderão passar por interações a nível de:
- Workshops
- Inquéritos
- Audição de partes interessadas
- Sessões de divulgação do projeto
- Divulgação do projeto na imprensa ou através de mailing
Manuel Piedade é licenciado em Engenharia Mecânica pelo IST e especialista em Engenharia Sanitária pela UNL. Foi Administrador de empresas da área do Ambiente (HIDROPROJECTO, AMBIENTSI, HIDROMINEIRA, ARABRANTES) e da área de manutenção industrial (MANVIA, MOTA-ENGIL_MANVIA - Diagnósticos Eléctricos , ACE, PFEIFFER-MANVIA , ACE). Foi docente da disciplina de resíduos sólidos em Mestrados da FCT da Universidade Nova de Lisboa e na Licenciatura em Engenharia do Ambiente da Universidade dos Açores. É Coautor do Guia Técnico nº 15 – Opções de gestão de resíduos urbanos, editado pela ERSAR. Foi sócio fundador da AMBIRUMO – Projetos, Inovação e Gestão Ambiental, Lda, empresa em que atualmente exerce funções de consultoria.