
Colunista António Sá da Costa (Energia-Renováveis): Já há meta para a energia renovável em 2030
Tal como eu antevi no mês passado o chamado trilogue, em que se sentam à mesa os representantes da Comissão Europeia, do Conselho de Ministros da Energia e do Parlamento Europeu, chegou a um acordo dos objetivos para 2030.
Chegou-se a 32%, a percentagem de renováveis em todo o uso de energia na Europa a 27. Este valor é vinculativo para toda a UE e vai resultar da conjugação de metas de cada um dos estados membros, que as devem propor no seu Plano de Energia e Clima para 2030. Se o conjunto das metas individuais de cada estado membro não for suficiente para cumprir o objetivo europeu, os estados membros menos ambiciosos serão requisitados a rever o seu Plano incluindo metas mais ambiciosas.
A proposta que o Parlamento Europeu tinha em cima da mesa era de 35%, aliás valor também defendido, e bem, por Portugal, contra os 27% das outras duas instituições. O que se conseguiu não é o ideal, mas como diz o povo “o ótimo é inimigo do bom”. Temos que olhar este objetivo como aquele para o qual temos que trabalhar, embora conscientes que ainda há muitas áreas a trabalhar a nível europeu, nomeadamente a definição do novo mercado de eletricidade.
Tenho consciência que uma meta inferior a 35% compromete o futuro da energia na Europa, afasta-nos dos objetivos do acordo de Paris, torna inatingível a neutralidade de carbono em 2050, contribui para alterações irreversíveis na vida na Terra como a conhecemos hoje, enfim estamos a hipotecar o futuro.
Agora todos os estados membros têm de apresentar até ao final deste ano os seus objetivos. Já muito se está a fazer nomeadamente em Portugal, mas temos de concretizar o objetivo nacional, que será certamente superior a 40% para a energia como um todo, relembro que o nosso objetivo para 2020 é de 31%, e depois quais os objetivos setoriais: eletricidade, transportes e aquecimento e arrefecimento.
Todos os setores me interessam, mas para aquele que é representado pela APREN, associação que dirijo, a eletricidade, a percentagem de renováveis será superior a 80%, que é na nossa opinião alcançável e desejável, temos agora de analisar com que tecnologias, como e quando, sem nunca perde de vista a questão fundamental de diminuir os custos para o utilizador, como aliás temos vindo a fazer.
Estamos a APREN, e eu próprio, disponíveis para colaborar na definição da nova política energética nacional. Para tal temos efetuado um conjunto de análises e estudos que muito podem ajudar ao paradigma que vai reger este setor na próxima década.
O objetivo é alcançável, temos de por mãos à obra, e nunca deixaremos de acreditar que:
Portugal precisa da nossa energia.
António Sá da Costa é presidente da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis e Vice-Presidente da EREF – European Renewable Energy Federation e da ESHA – European Small Hydro Association. Licenciou-se como Engenheiro Civil pelo IST- UTL (Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa) (1972) e tem PhD e Master of Science pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology (USA) em Recursos Hídricos (1979). Foi docente do IST no Departamento de Hidráulica e Recursos Hídricos de 1970 a 1998, tendo sido Professor Associado durante 14 anos; tem ainda leccionado disciplinas no âmbito de cursos de mestrado na área das energias renováveis, nomeadamente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Portalegre; Exerceu a profissão de engenheiro consultor durante mais de 30 anos, sendo de destacar a realização de centenas de estudos e projectos na área das pequenas centrais hidroeléctricas; Foi fundador do Grupo Enersis de que foi administrador de 1988 a 2008, onde foi responsável pelo desenvolvimento de projectos no sector eólico e das ondas e foi Vice-Presidente da APE – Associação Portuguesa da Energia de 2003 a 2011.